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Dos medos

Não tenho medo de muita coisa na vida, pelo menos eu acho, agora só me lembro de duas coisas. Nunca tive medo de andar naqueles brinquedos enormes do parque de diversões e que dão frio na barriga, da primeira menstruação... se bem que agora recordo de outros medos, tinha medo das histórias de maria florzinha, tenho medo de atravessar avenidas grandes, medo de um dia não ser mãe. Talvez eu não seja tão corajosa quanto eu pensava que fosse quando comecei a escrever. Dos medos que me assombram a vida que me referi inicialmente, são medos que me deixam doente. São eles: perder meus pais e o dia depois da formatura.
Eles são incomparáveis. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, são medos totalmente diferentes, mas que mexem com meu corpo, alma e mente. Faltam dois anos para chegar o dia da formatura e eu já me sinto tão insegura, a cada período concluído, a cada reunião da comissão de formatura eu penso, "meu Deus, tá chegando". Como vai ser um dia depois da formatura? Eu vou ser uma enfermeira. Eu que ainda sou tão adolescente, que brinco com criança como se fosse uma, que falto aula do mesmo jeito que faltava no tempo da escola ao pedido do meu pai. Eu vou ser responsável um dia depois da formatura por um setor de hospital, por organizar o serviço de vários técnicos, por sistematizar o cuidado de tantos pacientes ou qualquer outra das funções de enfermagem. Isso me assusta. E se eu não souber o que fazer? Angustiante! 
E pensar em perder meus pais então? Tenho tanto medo que não consigo descrever e nem vou, prefiro descrever o amor que tenho por eles em um outro texto.

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