Deixa ir.
Deixar ir porque não serve mais, não tem mais nada pra te oferecer a não ser
lembranças, boas, gostosas, tristes, engraçadas, lembranças pra ficarem
guardadas. Deixa ir como a chuva que vai correndo pelas calçadas, livre, sem
amarras, só sabe que já passou por ali. Deixa ir porque o tempo acabou. Não dá
pra reajustar, reorganizar, ou refazer, o que fez, fez, o que não fez, deixa
pra lá. Deixa ir pra chegar. Chegar coisa boa, coisa ruim, coisa triste, coisa
engraçada, coisa nova.
Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo. Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de forma relativamente breve, com alguma angústia
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