Me despedi do meu pai e saí de
casa sem dia pra voltar e ele olhou pra
mim com olhos de saudade. Cuidei de uma senhora com o maior cuidado do
mundo que estava doente na enfermaria e ela olhou pra mim com olhos de
agradecimento e ternura. Falei coisas bonitas ao rapaz que beijava, disse que
ele era muito especial pra mim e ele me olhou com olhos de amor. Gritei com uma
criança só porque ela quebrou o porta-retrato novo que tinha comprado e ela
olhou pra mim com olhos de medo. Discursei pra milhares de pessoas que podemos
mudar o mundo se caminharmos juntos e todos olharam pra mim com olhos de
esperança. E em todos esses momentos eles não me falaram nada disso, mas quando se olha nos
olhos, a gente sabe o que o coração quer dizer.
Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo. Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de forma relativamente breve, com alguma angústia
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