Pego ônibus pela manhã todos os dias na mesma parada em um bairro de Olinda, recentemente foi aberta uma peixaria em frente dela. Percebi que agora as pessoas ficam mais à direita, muito provavelmente por conta do cheiro que tomou conta de parte daquela parada, cheiro de peixe. Na verdade não são todas as pessoas, por que eu continuo no mesmo lugar, o cheiro de peixe cru não me incomoda, pelo contrário, me traz boas lembranças, lembranças do tempo em que eu via minha mãe ou alguma das minhas tias tratando os peixes como a gente chama, no quintal da casa da minha vó Lourinha em Itamaracá e lembro do mesmo cenário quando passo na rua e alguém tá fritando peixe, ou então se vejo um peixe feito de coco. Como não lembrar do meu vô Zé Guedes comendo moqueca, com um prato de laranja ou manga e um bom prato de feijão com farinha. Pois bem, a peixaria me faz lembrar o quintal da casa da minha vó que nem existe mais, a não ser nas boas lembranças que a gente guarda pra sempre na memória.
Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo. Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de forma relativamente breve, com alguma angústia
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