Pular para o conteúdo principal

uma carta pra antônio

Ao ler a feliz notícia essa semana da gravidez de Mallu e Camelo lembrei de você, afinal a primeira vez que estive na tua casa eram eles que embalavam a trilha sonora e foram eles que nos acompanharam nas primeiras músicas trocadas e no show da banda do mar. Tava rolando o 1º Encontro de Metais no Centro de Artes da UFPE, ouvindo uma das bandas sabia que aquele som de instrumentais me remetia a alguma lembrança, era você naquela tarde de domingo na Rua da Aurora, eu que não sou muito fã desses programas mas também não resisto a conhecer coisas novas fui pra te acompanhar, sim, no final foi pra isso, só pra te acompanhar e mostrar que queria estar perto de você. E ontem vi uma camisa numa loja que achei a tua cara, as lembranças sempre vão existir, fato.

É que as pessoas não são descartáveis por mais que às vezes a gente queira, elas moram na gente depois que vão embora, é inevitável. Sabe aquela frase "deixam um pouco de si, levam um pouco de nós"? É isso. Não podemos descartar alguém da mesma forma que se desinstala um aplicativo no celular, somos gente, com alma, cérebro, corpo, sentimentos, mas sabe, antônio, são de fato apenas lembranças que fazem morada em mim. 

As coisas e aí não objetifico como "coisas" mas como momentos, também acabam, nós acabamos da forma mais triste e cheia de mágoas que poderia acabar, olhando bem não foi tão mal pra um fim, foi até bom porque assim não tem chances de achar um caminho de conciliação, por mais que tenha amor dentro de mim pelas pessoas, eu sou humana demais pra aceitar tanto desamor teu, tanta falta de humanidade tua. As lembranças boas moram em mim tanto quanto as más, elas aprenderam a conviver civilizadamente e só.

Assim como lembro de tantos outros que já passaram pela minha vida, você passou, agora siga em paz, procure não magoar as próximas moças, talvez as que estejam por vir tenham mais amor que eu pra te oferecer, talvez elas gostem mais dessas músicas instrumentais, de suco do que de refrigerante, de você. Fico por aqui, adoro experimentar vida!


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

a vida finda

Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo.  Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de  forma relativamente breve, com alguma angústia

A mãe solo

A maternidade é um vivência muito individual e particular, cada mulher de acordo com seu contexto financeiro, emocional, social poderá viver esse processo de uma forma. A maternidade é tida socialmente como uma questão (um problema) exclusiva da mulher, costumo falar em encontros feministas que os problemas privados das mulheres não podem ser privados, devem ser públicos e "coletivizados" por que as questões de uma mulher na verdade são as questões das mulheres e assim são porque foram condicionadas historicamente e estruturadas pelo machismo. Considero a maternidade em si solitária, só você é mãe daquela criança, e isso traz uma carga gigante de responsabilidade para a vida das mulheres de todas as ordens, a maioria são condicionadas socialmente, mas nem todas, porque estou falando de um laço de amor e afeto eterno na vida de uma pessoa, e quando planejada ou desejada é realmente de uma indizível emoção. A maternidade é uma experiência maravilhosamente incrível, mas também p

trabalhos e trabalhos

Vi meu pai e ainda vejo minha mãe fazendo trabalho braçal pra pagar as contas. Muitos trabalhos, meu pai serviços de dedetização, sendo dono de bar, vigilante, minha mãe bordando, revendendo avon, fazendo lanches, ofício que cumpre até os dias atuais. Me pego pensando nisso dentro da sala que trabalho com o ar-condicionado em 16 graus, onde passo as manhãs e as tardes realizando consultas de enfermagem na maior parte do tempo sentada fazendo avaliações, orientações, escutas. Refleti sobre esses trabalhos também uma vez quando entrei no elevador do plantão e comentei com a moça dos serviços gerais que eu tava sentindo frio, ela rebateu que "tava era com muito calor". Penso nisso o tempo todo, como um dia desses que vi um homem de manhã carregando sozinho no ônibus duas caixas de morango pra vender ou quando o marido de uma gestante que atendo não consegue se livrar de uma lesão que deve ser causada por fungos que com certeza veio do trabalho dele na Ceasa. Trabalho é trabalho