Pular para o conteúdo principal

loreta e a pec 241

Eu não entendo porcaria nenhuma de economia, em contrapartida entendo de necessidades, entendo de gente, ou pelo menos tento entender. Li que a PEC 241 (Proposta de Emenda Constitucional) só reajusta os investimentos nas áreas sociais de acordo com a inflação pelos próximos 20 anos , independente da nossa arrecadação e independente do tamanho da população, bom não precisa entender muito pra ser contra isso quando a luta sempre foi pela ampliação, não precisa entender de economia pra ter certeza que as necessidades das pessoas sempre aumentam e que esse congelamento/retirada no orçamento traz malefícios pra uma parcela da população, a parcela que necessita. 

A vida me ensinou a fazer algumas escolhas, a ter muitas convicções, já tive plano de saúde, sempre estudei em escola particular com muito sacrifício de meus pais pra que eu tivesse melhores condições de vida, sei que o serviço prestado por um plano de saúde pode ser muito mais eficiente que o serviço público e a qualidade da educação oferecida na escola particular nem se compara com a pública e entendi que no momento que existem dois "tipos de saúde" e dois "tipos de educação", onde há uma diferença enorme de qualidade entre as duas,  existe uma divisão social determinada por quem pode pagar pelo melhor acesso. E isso é um absurdo na medida que as oportunidades dadas para que as pessoas possam pagar por esse melhor acesso são extremamente desiguais.

Ouvi da viúva de Carlos Prestes em São Paulo, ela repetindo a seguinte frase de seu companheiro: "meus filhos vão estudar onde os filhos dos trabalhadores estudam", referindo-se a escola pública, nesse dia decidi que meus filhos iriam estudar onde os filhos dos trabalhadores estudam também. Outro dia me tornei mais comunista porque o comunismo é uma escolha diária, é uma construção cotidiana de valores, ando de mãos dadas em algumas batalhas com um professor universitário chamado Itamar Lages, uma vez ouvi ele dizer "temos que defender o público", claro, temos que defender o público porque o público não tem determinantes de classe. Professor Itamar não tem carro, ele anda de ônibus e não tem plano de saúde, ele usa o SUS, temos uma constituição que garante esses direitos, entendi então o que significa lutar pelo estado de bem-estar social, onde as pessoas que podem pagar e que não podem pagar estão incluídas.

Eu quero que Loreta estude em escola pública, falei durante minha campanha que essa é minha escolha e deveria ser onde os filhos de vereadores e prefeitos estudam também para que os serviços públicos, os quais os mesmos são responsáveis, tivessem o cuidado de quem tem filhos que os utilizam, eu quero que Loreta seja usuária do SUS, quero que Loreta seja feliz em praças públicas que ofereçam segurança e lazer, quero que Loreta entre na universidade pública ou particular sem pagar nada, quero que Loreta usufrua de programas sociais e tenha compreensão que está usufruindo de um direito porque nossa constituição garante!

A PEC 241 destrói meus sonhos de fazer com que Loreta goze de seus direitos, esses direitos representam pra mim uma vida mais digna pra todas as pessoas e com perspectiva de felicidade, querem sacrificar ainda mais todos aqueles que sempre historicamente sofrem por terem o acesso a seus direitos básicos como saúde e educação oferecidos em migalhas, nós não queremos migalhas, nós queremos direitos assegurados, a PEC não pode passar, porque quem vota pra que ela seja aprovada não sabe o que é ter um filho em escola pública ou esperar uma consulta médica no serviço público de saúde. Infelizmente ela será aprovada no senado em dezembro porque os senadores se dizem entender muito de economia e contenção de gastos, mas não sabem de nada sobre necessidade de gente, até lá o que nos resta é o grito desesperado de resistência e a luta permanente, por Loreta e por todos nós!




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

a vida finda

Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo.  Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de  forma relativamente breve, com alguma angústia

A mãe solo

A maternidade é um vivência muito individual e particular, cada mulher de acordo com seu contexto financeiro, emocional, social poderá viver esse processo de uma forma. A maternidade é tida socialmente como uma questão (um problema) exclusiva da mulher, costumo falar em encontros feministas que os problemas privados das mulheres não podem ser privados, devem ser públicos e "coletivizados" por que as questões de uma mulher na verdade são as questões das mulheres e assim são porque foram condicionadas historicamente e estruturadas pelo machismo. Considero a maternidade em si solitária, só você é mãe daquela criança, e isso traz uma carga gigante de responsabilidade para a vida das mulheres de todas as ordens, a maioria são condicionadas socialmente, mas nem todas, porque estou falando de um laço de amor e afeto eterno na vida de uma pessoa, e quando planejada ou desejada é realmente de uma indizível emoção. A maternidade é uma experiência maravilhosamente incrível, mas também p

trabalhos e trabalhos

Vi meu pai e ainda vejo minha mãe fazendo trabalho braçal pra pagar as contas. Muitos trabalhos, meu pai serviços de dedetização, sendo dono de bar, vigilante, minha mãe bordando, revendendo avon, fazendo lanches, ofício que cumpre até os dias atuais. Me pego pensando nisso dentro da sala que trabalho com o ar-condicionado em 16 graus, onde passo as manhãs e as tardes realizando consultas de enfermagem na maior parte do tempo sentada fazendo avaliações, orientações, escutas. Refleti sobre esses trabalhos também uma vez quando entrei no elevador do plantão e comentei com a moça dos serviços gerais que eu tava sentindo frio, ela rebateu que "tava era com muito calor". Penso nisso o tempo todo, como um dia desses que vi um homem de manhã carregando sozinho no ônibus duas caixas de morango pra vender ou quando o marido de uma gestante que atendo não consegue se livrar de uma lesão que deve ser causada por fungos que com certeza veio do trabalho dele na Ceasa. Trabalho é trabalho