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intolerância, ódio e resistência

Tenho no momento 23 anos de idade, nem sempre fui atenta as questões da política nacional e aos debates efervescentes da sociedade que foram pautados desde que me entendo por gente, pois somente depois que ingressei no movimento estudantil que tive minha consciência política despertada apesar de sempre carregar em mim uma grande vontade de mudar as coisas, mas pelo que posso perceber estamos de fato em um dos momentos mais difíceis dos último tempos, são tempos de intolerância, discurso de ódio e resistência para os sonhadores.

Eu acho muito sinceramente que na vida não existem pessoas boas de um lado e más do outro no sentido puro da palavra, acho que existem pessoas de interesses distintos e que acreditam e defendem causas e ideias distintas, acho por exemplo que existe a intolerância e às vezes o ódio de ambas as partes daqueles que protagonizam os projetos políticos antagônicos no nosso país e muito mais daqueles que não tem nem consciência do que isso significa de verdade. 

Lembro de quando era criança ouvir muita piada racista, homofóbica, preconceituosa com mulheres loiras e preconceituosas no geral, já li algumas vezes e concordo que isso mudou, evoluímos de tal maneira que não toleramos (a maioria das pessoas) mais essas piadas, estamos intolerantes a qualquer tipo de preconceito que antes era tido como normal e isso é muito bom, em contrapartida a intolerância dos preconceituosos, dos racistas, dos homofóbicos, dos machistas, ganharam maior expressão na nossa sociedade e aí eu me pergunto se eles estão mais em evidência por que o combate organizado começou a existir com mais força, ou se eles de fato estão mais agressivos e raivosos.

O que é que tá acontecendo de verdade? Isso me preocupa e penso que se fossemos disputar com essa turma num cabo de guerra, perderíamos, eles estão muito fortes. Eu faço parte do time que acredita, sonha e defende uma sociedade de diferentes e iguais na perspectiva de um estado democrático de direito, acho que não tenho direito de julgar a individualidade das pessoas, somos todos e todas livres, ou deveríamos ser, porém carregamos uma herança cultural maldita na nossa história que coloca os negros e negras numa posição de inferioridade na sociedade, assim como as mulheres, os homossexuais.

Precisamos defender o óbvio ofensivamente, negros e brancos são pessoas que devem ter os mesmos direitos e oportunidades, a população negra e pobre carrega na sua identidade resquícios profundos de desigualdades históricas que precisam ser reparadas, as cotas  por exemplo é uma política afirmativa de inclusão dessas pessoas, a redução da maioridade é retroceder nesse processo de reparação, consegue compreender? "Todo camburão tem um pouco de navio negreiro" e "Não vamos aceitar, primeiro escravizaram agora querem encarcerar" são frases de impacto que expressam bem o que tô querendo dizer.

As mulheres constituem mais uma parcela que precisa dessa reparação, o machismo nos coloca em situação de vulnerabilidade todos os dias e nos mais diversos aspectos, seja no direito à vida e ao próprio corpo, como aos espaços de poder e a equiparação de salário com os homens, somos a maioria da população, somos uma parcela significativa da população economicamente ativa, somos chefes de família e não podemos ser negligenciadas pelas políticas sociais e públicas que além de reparar as desigualdades combata com severidade o machismo que nos mata diariamente.

A livre união e o amor entre pessoas do mesmo sexo não podem sofrer interferência da religião de terceiros, as escolhas de cada um são individuais, somos livres para amar quem nos faz bem e cabe ao estado somente garantir nossos direitos humanos e sociais, o resto é preconceito e intolerância. No cenário político em curso não é diferente, as pessoas estão raivosas, opiniões contrárias de ambas as partes causa repulsa, as pessoas não se compreendem e não se ouvem, as redes sociais estão cheias de pessoas que reproduzem o discurso pautado pelo ódio sem nem saber o que estão falando, não tá fácil, os sonhadores precisam resistir e ser pacientes, pacientes ativos, claro.

Eu olho pras crianças e tenho certeza que o futuro está nelas e numa educação emancipadora,  livre da intolerância religiosa, sexual, racial, de gênero, lutemos pra isso, eduquemos nossas crianças, em tempos de intolerância e ódio sejamos o amor pelo futuro da humanidade, estamos todos precisados de liberdade e respeito!






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