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Mostrando postagens de setembro, 2019

tem que andar de ônibus

Como diz o comandante Siqueira, "uma crônica pra descontrair" Tem que andar de ônibus e metrô se quiser conhecer o povo, se quiser, claro, se não quiser mantenha-se no seu carro, com vidros fechados e playlist à gosto. Mas se quiser conhecer o povo, ande de ônibus e de metrô. Se quiser ver a realidade do povo, as necessidades do povo, procure a parada de ônibus mais próxima de sua casa e boa viagem à realidade, as tantas realidades que nos cercam. Hoje de manhã debaixo do sol escaldante e nada acolhedor de Recife, no largo da encruzilhada, uma senhora me cutuca repentinamente:  - aquele ali é o dois irmãos? não, aquele é o cdu. Ela tá de óculos, pela abordagem percebi que ela poderia não saber ler. O rio doce/cdu e o rio doce/dois irmãos tem a mesma cor, eu mesma já peguei um pensado que era o outro umas duas vezes, muita gente pega ônibus "pela cor", é verdade, mesmo sabendo ler, mas imagina que não sabe? Expliquei pra ela: - tá vendo que esse que tá vindo

dia de morrer

Ela morreu num dia de morrer, dia de domingo é dia de morrer. Pra mim sempre foi, porque já combina com alguma melancolia, alguma tristeza, que combina com o tédio de ver Faustão na televisão como quase a única opção dos brasileiros. Eu mesma quero morrer num dia de domingo, deus me livre morrer numa sexta-feira. Ela morreu e o bar continuou aberto, as pessoas do bar continuaram bebendo, falaram até sobre ela - bebendo - como antes dela morrer. Ela morreu e vez ou outra eu olhava pra Faustão na TV, mesma doendo, escapava um riso de alguma coisa engraçada que via na internet, mesmo depois dela morrer. Ela morreu mesmo com a festa marcada, mesmo com o filho distante, mesmo com a filha de 16, mesmo assim, ela morreu! E o bar vai continuar aberto, a TV ligada, o jogo rolando, a vida passando mesmo depois dela morrer. Talvez esse seja o recado da vida, que ela tem que ser vivida mesmo nos dias de morrer.