Pular para o conteúdo principal

Recife, um caso de ódio e muito amor

Longe de Recife um dia desses constatei: Recife é uma cidade que a gente odeia, mas não vivem sem porque sente amor. A gente odeia o trânsito do Recife, a falta de mobilidade na nossa cidade porque todo mundo precisa vir pra Recife, o centro onde tudo acontece, mas a gente ama porque até no meio da confusão dos ônibus lotados a gente tem um povo arretado que ainda consegue sorrir. 

A gente odeia Recife porque Recife fede, mas a gente ama passar pelas pontes do Recife e admirar a paisagem da nossa Veneza brasileira. A gente odeia as desigualdades que não é difícil perceber, seja nos contrastes urbanos entre prédios luxuosos e barracos, seja com as pessoas em situação de rua que a gente esbarra toda hora, mas a gente ama o vuco-vuco, as lojas e a agitação que só Recife proporciona. 

A gente odeia a violência, os assaltos e o medo de andar nas ruas à noite, mas adora as noites do Recife e consegue se sentir livre em pleno Recife Antigo. A gente odeia dia de jogo porque sente medo das brigas das torcidas, mas a gente ama o Sport, o Santa Cruz e o Náutico. A gente odeia aqueles dias de chuva em que tudo para, tudo alaga, tudo enche, mas a gente ama os dias de sol que as cores vibram e tem vida. 

A gente odeia esperar por ônibus como o Barbalho/Detran, Casa Amarela/TRT e Dois Unidos/Prefeitura, mas a gente ama sair dia de domingo que não tem muito trânsito e poder aproveitar o que o Recife tem pra oferecer. A gente odeia o calor infernal que o Recife faz quase o ano inteiro, mas ama suar no passo do frevo e maracatu. 

E aí a gente sai odiando as coisas que atrapalham a gente de amar ainda mais essa cidade que carrega o peso e a leveza de tanta cultura, tanto patrimônio histórico, tanta diversidade, pluralidade, tanta cor, que mistura tudo e dá o Recife que a gente conhece e que não é o mesmo em Casa Amarela e em Boa Viagem, não é o mesmo em Casa Forte e no Alto José Bonifácio, mas que é aquele lugar que quando a gente vai pra fora a gente enche a boca pra dizer: sou de Recife! E lá fora Recife é um só!



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

a vida finda

Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo.  Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de  forma relativamente breve, com alguma angústia

trabalhos e trabalhos

Vi meu pai e ainda vejo minha mãe fazendo trabalho braçal pra pagar as contas. Muitos trabalhos, meu pai serviços de dedetização, sendo dono de bar, vigilante, minha mãe bordando, revendendo avon, fazendo lanches, ofício que cumpre até os dias atuais. Me pego pensando nisso dentro da sala que trabalho com o ar-condicionado em 16 graus, onde passo as manhãs e as tardes realizando consultas de enfermagem na maior parte do tempo sentada fazendo avaliações, orientações, escutas. Refleti sobre esses trabalhos também uma vez quando entrei no elevador do plantão e comentei com a moça dos serviços gerais que eu tava sentindo frio, ela rebateu que "tava era com muito calor". Penso nisso o tempo todo, como um dia desses que vi um homem de manhã carregando sozinho no ônibus duas caixas de morango pra vender ou quando o marido de uma gestante que atendo não consegue se livrar de uma lesão que deve ser causada por fungos que com certeza veio do trabalho dele na Ceasa. Trabalho é trabalho

A mãe solo

A maternidade é um vivência muito individual e particular, cada mulher de acordo com seu contexto financeiro, emocional, social poderá viver esse processo de uma forma. A maternidade é tida socialmente como uma questão (um problema) exclusiva da mulher, costumo falar em encontros feministas que os problemas privados das mulheres não podem ser privados, devem ser públicos e "coletivizados" por que as questões de uma mulher na verdade são as questões das mulheres e assim são porque foram condicionadas historicamente e estruturadas pelo machismo. Considero a maternidade em si solitária, só você é mãe daquela criança, e isso traz uma carga gigante de responsabilidade para a vida das mulheres de todas as ordens, a maioria são condicionadas socialmente, mas nem todas, porque estou falando de um laço de amor e afeto eterno na vida de uma pessoa, e quando planejada ou desejada é realmente de uma indizível emoção. A maternidade é uma experiência maravilhosamente incrível, mas também p