O despertador anunciou a hora de partir em pleno domingo de manhã enquanto ele continuava com os olhos fechados e respirando fundo. Domingo de manhã não combina com horários programados, mas ela tinha que ir e tinha que ficar mais um pouco também. Contou então mais dez minutos de soneca no relógio pra poder levantar e pensou como usava o tempo. Pensou rápido e cutucou, "vira de lado". Dedilhava os ombros, as costas e os braços do rapaz, com pressão, ternura e carinho. 10 minutos de carinho infinito.
O relógio faz questão de ser vilão propositalmente nas horas que moças duronas se permitem ser mocinhas desarmadas, nesse caso, minutos e despertou novamente. Levantou pra ir embora, reparou que esqueceu a escova de dentes, justamente a escova de dentes. Parecia ironia, mas ele ofereceu a dele pra dividir enquanto em outra inspiração poética ela tinha ensaiado jogar a dele fora. Esqueceu a escova de dentes e a agenda, a agenda que deve ser seguida milimetricamente segundo a política que ela criou na cabeça.
Esqueceu a agenda pra salvar a saudade de um ataque fulminante. Sem escova de dentes, lápis de olho e uma simples sandália, riu do descuido que consentiu a ela mesma, tudo isso por uma madrugada de pele clara com pele preta e 10 minutos de carinho pela manhã. Antes de ir deixou um recado de batom no espelho: SÓ TE LARGO DEPOIS DO FIM DA POESIA!
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