O nego chegou de manhã me beijando com gosto de cachaça, dizendo que me ama, enchendo a mão de peito. Depois acordei com a menina dos meus olhos chorando e sorrindo, me pedindo o colo que é só dela. Meu velho depois me ligou falando com voz alegre que conseguiu a aposentadoria e que a vida ia melhorar. No caminho do trabalho uma senhora desconhecida me fez renovar a esperança na bondade das pessoas aleatórias, mas no final do dia o avô do nego (quase pai) se despediu da nega veia, das filhas, dos netos, dessa breve vida depois de muita dor, ele sabia que viver era bom e não queria ir, mas quando a hora da partida chega, a gente só tem que ir. Fechei os olhos e agradeci ao nego, a minha menina, ao meu velho, a senhora desconhecida, ao avô por me fazer sentir a vida. Porque o que vale na vida é a mão no peito, minha menina no colo, meu velho feliz, a fé na bondade das pessoas, a certeza que a vida finda mas que a gente ainda tá aqui.