Tava numa lojinha e reparei num compasso e numa régua redonda meia lua que estavam pendurados, materiais da escola em algum momento da minha vida, me esforcei pra lembrar pra que serviam, como usava e não consegui recordar, acho que não aprendi nada porque tem muitas coisas da escola que eu lembro muito ou posso ter aprendido momentaneamente, mas se perdeu na minha memória as suas respectivas utilidades. Além da geometria, várias outras coisas ficaram no esquecimento das diversas matérias escolares, assim como da própria graduação.
Fiz a reflexão que mais da metade de tudo que já aprendi até hoje, não foi na sala de aula, aprendi sobre como se sobrevive na rua com gente que nunca foi de frequentar escola ou pretensão de entrar na faculdade e aprendi sobre o que era ter consciência de ser cidadã na militância da luta política. Pois bem, nunca estudei em uma escola pública, mas já tive a oportunidade de entender como elas funcionam através do movimento estudantil e sempre me questiono que educação de merda é essa que os filhos e filhas do nosso povo tão sacrificado é submetida, escola que falta vaga, que o professor tem um salário ridículo, que a metodologia é quadrada, que a infraestrutura é precária, quais perspectivas se espera dessa educação?
A escola era pra ser espaço de reflexão, aprendizado, experiência, de se reconhecer como gente e não de se sentir à margem das perspectivas do que os filhos do prefeito e dos vereadores que estudam nas melhores escolas tem. A escola devia ser fábrica de sonhos e não centro de reprodução das condições sociais. A escola devia falar de arte, de política, de esportes, assim como português, matemática, história e geografia. Olhei o compasso e a régua e pensei que tem coisa demais que a gente não precisa estudar, decorar e provar que aprendeu, que podia mudar.
Recentemente foi feita uma reforma no ensino médio, uma reforma era o que a gente precisava pra transformar a escola num espaço melhor, mas diferente do que deveria ser retiraram do currículo a obrigatoriedade de filosofia, educação física, arte e sociologia. É de causar muita indignação essa educação de merda que os filhos e filhas do nosso povo tão sacrificado estão condenados a receber, para que não pensem, para que reproduzam condições, pensamentos, práticas de conformação. Quem decidiu? O pai daquelas crianças que estudam nas escolas que tem festivais, campeonatos e laboratórios equipados. Os trabalhadores que suam todos os dias e que tem a escola pública como única possibilidade de alguma perspectiva melhor que a sua, não escolhem, não decidem.
É que o problema dessa educação de merda que impõem pra gente como afirmou bem Darcy Ribeiro é que A CRISE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL NÃO É UMA CRISE. É UM PROJETO. Não é um problema conjuntural, é estrutural, precisa existir pra que as parcelas privilegiadas se mantenham onde estão, pra que os filhos dos trabalhadores se mantenham sem perspectivas. Sou indignada com a educação de merda que somos obrigados a manter.
Lucido e preciso.
ResponderExcluirÉ isso aí!