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na sala de espera

Na sala de espera da prova prática do DETRAN vejo apenas duas placas: "proibido uso do celular", "estamos monitorando com câmeras", procurei alguma que falasse da obrigatoriedade de manutenção de um ambiente tenso, ansioso e acima de tudo sem interação. Eu sempre fui assim, pode ser meio que loucura minha, mas não consigo permanecer em nenhum ambiente que não possa interagir com as pessoas próximas, parada de ônibus, fila de banco, jogo de futebol, bar, naturalmente todos nós deveríamos nos falar, não? Pela reação de algumas pessoas ao meus estímulos, acredito que não. Já levei cada toco, mas não desisto, não deixo de falar, prefiro ser louca, ainda mais em uma sala de espera que o nervosismo tomava conta do ambiente, precisava de descontração, não seria possível que ninguém ali fosse como eu. 

Fui lá, sua primeira prova? é. mas é tranquilo, lembrar de ligar a seta, não colocar em segunda marcha pra não ultrapassar a velocidade e ficar calmo. Pensei, poxa, seguro ele, vai passar, em poucos minutos foi chamado e eu falei alto num ambiente silencioso, "boa sorte!", me acharam louca de novo, certeza. Como assim é estranho dar boa sorte numa prova tensa daquela? Do vidro via os aprovados, saiam do carro com um sorrisão no rosto, queria poder dar um grito de comemoração e dizer: UHUUU, PARABÉNS, CARAMBA, DEU CERTO! Via também os reprovados, aqueles que não chegavam ao final do percurso, eu queria muito abraçar eles, vi um menino chorando, fiquei morrendo de pena e tive certeza que se na minha vez ocorresse o mesmo, choraria também, queria tanto passar. Reparei que na maioria das pessoas reprovadas estavam as mulheres, mais um motivo pra eu relaxar. 

Na procura de interações conversei com um senhor, aparentemente tinha entre 40 e 50 anos, fui logo disparando minha matraca: não posso reprovar, tá perto da minha inscrição vencer e não tenho dinheiro, ele diz que nem ele, que tá desempregado, já fiquei me sentindo mal, eu não consigo imaginar quantas dificuldades estão passando os brasileiros sem renda, depois ele segue falando que demorou seis meses pra ser aprovado na prova teórica e reclamou "difícil aquela prova né?" eu fui obrigada a concordar imediatamente, não achei a prova difícil, apesar de ter estudado até o último momento - sem necessidade - segundo algumas pessoas, achei a prova uma coisa besta, mas eu não podia diminuir a dificuldade tão sofrida dele de seis longos meses negando isso né? Falei que só conseguia dirigir descalça, aí ele: eu também, por isso que reprovei da outra vez, vim de sapato. Entendi toda vulnerabilidade e falta de empoderamento envolvida. Então perguntei: mas agora tá se sentindo seguro do que vai fazer? ouço que não. 

Ele mudou de lugar, fiquei lá puxando assunto com outras pessoas, comentando sobre as reações de aprovados e reprovados, até que depois de minutos vejo o senhor indo embora sem terminar o percurso. Meu coração ficou no chão, era previsível né? Mas queria tanto que ele passasse. Juro por deus que se pudesse, daria minha aprovação, que seria em seguida pra ele, mas não tinha como. Só senti uma leve tristeza. Me chamaram, fui lá, segura de tudo que tinha que fazer, ainda que um pouco nervosa e fiz, agora sou habilitada, rapaz.

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