Pular para o conteúdo principal

RELATO DE PARTO

RELATO DE PARTO

Eu ia deixar pra fazer depois com mais calma, mas como tô aqui enquanto Loreta dorme e minha única tarefa é vigiar a respiração dela pra ter certeza que ela não vai morrer (porque é essa sensação) vou contar pra vocês como foi tudo. Tudo começou quando na terça (06/12) pela primeira vez não consegui segurar o xixi ou perdi líquido, até agora de verdade não sei o que era porque não entendi em qual momento perdi de fato o líquido da bolsa. Fiquei preocupada porque como era muito xixi que eu fazia, não conseguia diferenciar quando saía espontaneamente, mas percebia que saia aos pouquinhos uma secreção diferente do meu canal vaginal, transparente, sem cheiro e tipo catarro. Na quinta à tarde depois do trabalho fui despretensiosamente na emergência do IMIP, na triagem falei das características do líquido e tive uma dinâmica uterina (contração do útero) de 40 segundos mais ou menos, no atendimento médico realizaram o toque (dois toques, um de uma estudante, não reclamei, permiti), ela viu que tava com 3 a 4 cm de dilatação, perguntei se era normal, ela disse que sim e dilatação só configurava em trabalho de parto com contração, colo amolecido e centralizando, bolsa integra, então segui minha agenda de resolver o mundo antes de Loreta chegar.

A mãe de Diego foi lá em casa levar as roupas dela lavadas e a gente teve a grande ideia de arrumar a bolsa dela, graças a Deus, aos bons espíritos, aos orixás, a sei lá o que! Sibelly, camarada de partido e amiga também foi e quando foi embora ela falou "em dois dias ela chega depois desse toque", tava muito cansada, sempre achava que tava mais que um dia anterior e quarta morri, fui dormir tarde, acho que umas 23h ou mais e no meio da madrugada (03:30 da manhã) acordo com uma contração muito, muito forte. Fui no banheiro, demorei um pouco e criei forças pra voltar pra cama e começar a contar a duração e intervalo entre elas, não lembro a quantidade exata, mas lembro que em 15 minutos tive contrações o suficiente pra caracterizar o trabalho de parto ativo e não acreditei que já era ela chegando, a dor era muito forte, como a gente não tinha água quente no chuveiro e nem ferro de passar pra fazer compressa, Diego foi esquentar água, primeiro ele molhava um pouco um pano pra colocar nas minhas costas e fazer massagem, depois pedi pra ele arrumar minhas coisas ou ele mesmo foi, não lembro bem e eu mesma praticamente jogava a água quente em mim pra tentar aliviar as dores, nessa hora eu já tinha voltado pro banheiro e senti rastros de sangue saindo, fiz coco também e já tava delirando de dor, não conseguia nem falar direito, Diego tinha hora que fazia alguma graça e eu só respondia "eu não vou sorrir", teve uma hora que senti uma vontade grande de fazer coco e não acreditei mais uma vez que era ela tão perto, pelo contrário, ficava pensando que ainda teria muitas horas de trabalho de parto e que se a intensidade das contrações aumentassem eu não iria aguentar, mas tava lá concentrada na respiração e na dor e descansava de verdade nos intervalos mesmo que tão curtos, bom, foi quando me convenci que era hora de ir pro hospital, Diego já tava nervoso e com medo dela nascer em casa rs, fomos pro IMIP acredito que quase 05:30 da manhã, pegamos um táxi que inclusive bateu em outro carro já chegando no hospital mesmo eu pedindo pra ele não correr tanto, mas eu falava pouco. Chegando na triagem, constataram meu trabalho de parto ativo e em alguns minutos a médica me atendeu, viram também que eu tinha ido lá um dia antes e quando abri as pernas pra ela me examinar ela falou "ela já tá aqui, pode subir", acho que não acreditei mais uma vez, subi pro PPP, arrumaram a maca de eu deitar, Diego tinha ido na casa das bolsas deixar as coisas, acho que em menos de 10min que subi na maca, em 30 segundos que Diego chegou, eu pari Loreta, na primeira força que fiz, verbalizando "vem, Loreta" ela chegou tão pequenininha, tão linda e até agora não acredito que tudo foi tão rápido. Levei alguns pontos, fiquei sentindo umas cólicas e pronto, Loreta nasceu com 45cm e 2395g com 37 semanas e 5 dias e sobre o parto acho que isso foi tudo. 

Mas queria deixar registrado que algumas conversas com três mamães me ajudaram a ficar tranquila pra essa hora: Luana e Jessikinha da faculdade e Thiara. Elas não sabem, mas ajudaram muito, me prepararam. Queria agradecer também a Dani Lins que se ofereceu pra ser minha doula, mas nem conseguimos nos encontrar antes e acho que nem daria tempo dela chegar, assim como Liniker e Dandara, enfermeiros residentes em obstetrícia. Como podem ver não fiz um recorte espiritual do parto ou essas coisas do tipo, não fiz preparação pra ele em rodas de diálogo e tal, mas desde que decidi ter loreta me entreguei a sentir tudo e passar por tudo: enjoos, vômitos, xixis, cansaço, sustos, contrações e a dor de parir e fui surpreendia com um parto rápido graças às forças da natureza. E fica aquele agradecimento especial a meu companheiro, que sempre esteve presente em todos os momentos e até no parto onde ele não queria estar, mas como ele mesmo disse "foi tão rápido que nem deu tempo de passar mal" hahaha

Obrigada por tudo, gente e viva Loreta!



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

a vida finda

Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo.  Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de  forma relativamente breve, com alguma angústia

trabalhos e trabalhos

Vi meu pai e ainda vejo minha mãe fazendo trabalho braçal pra pagar as contas. Muitos trabalhos, meu pai serviços de dedetização, sendo dono de bar, vigilante, minha mãe bordando, revendendo avon, fazendo lanches, ofício que cumpre até os dias atuais. Me pego pensando nisso dentro da sala que trabalho com o ar-condicionado em 16 graus, onde passo as manhãs e as tardes realizando consultas de enfermagem na maior parte do tempo sentada fazendo avaliações, orientações, escutas. Refleti sobre esses trabalhos também uma vez quando entrei no elevador do plantão e comentei com a moça dos serviços gerais que eu tava sentindo frio, ela rebateu que "tava era com muito calor". Penso nisso o tempo todo, como um dia desses que vi um homem de manhã carregando sozinho no ônibus duas caixas de morango pra vender ou quando o marido de uma gestante que atendo não consegue se livrar de uma lesão que deve ser causada por fungos que com certeza veio do trabalho dele na Ceasa. Trabalho é trabalho

A mãe solo

A maternidade é um vivência muito individual e particular, cada mulher de acordo com seu contexto financeiro, emocional, social poderá viver esse processo de uma forma. A maternidade é tida socialmente como uma questão (um problema) exclusiva da mulher, costumo falar em encontros feministas que os problemas privados das mulheres não podem ser privados, devem ser públicos e "coletivizados" por que as questões de uma mulher na verdade são as questões das mulheres e assim são porque foram condicionadas historicamente e estruturadas pelo machismo. Considero a maternidade em si solitária, só você é mãe daquela criança, e isso traz uma carga gigante de responsabilidade para a vida das mulheres de todas as ordens, a maioria são condicionadas socialmente, mas nem todas, porque estou falando de um laço de amor e afeto eterno na vida de uma pessoa, e quando planejada ou desejada é realmente de uma indizível emoção. A maternidade é uma experiência maravilhosamente incrível, mas também p