Pular para o conteúdo principal

bastidores da pandemia

O que você perdeu nessa pandemia? Seu pai, sua tia preferida? Sua namorada? E os momentos? Quais momentos importantes da sua vida a pandemia impediu de acontecer? Já vi algumas pessoas falando "minha filha disse que essa é a idade do primeiro beijo na escola", só que ela está em casa. Outro amigo publicou, "ela ainda não frequentou a escola e já está no segundo ano do ensino médio". 

Minha filha de 04 anos quase todo dia me lembra que não conhece um zoológico de verdade. Acho que a maioria de nós perdeu um momento importante e significativo nas nossas vidas que foram impedidos de acontecer até então, devido ao isolamento social. Assim como esses exemplos, fiquei pensando em quem ingressou na universidade ainda ano passado, eles não sabem ainda a emoção de entrar na sala de aula e de ter a recepção de calouros. 

Ou aqueles e aquelas que sonham em uma festança de casamento ou de aniversário dos filhos/as, aquelas festas que a gente passa um ano planejando, organizando e nenhuma podem ainda acontecer. A pandemia não é apenas sobre doença e morte, é sobre a vida também. 

Essas experiências e comemorações fazem parte de nossas vidas, marcam nossa trajetória, nossa identidade e fazem a gente ser quem a gente é. A pandemia anulou sonhos, expectativas e realizações dos sobreviventes. Estar vivo/a é uma dádiva, mas não poder viver é uma frustração. 

É preciso muita resiliência e capacidade de sonhar, vai passar e ainda que com um certo atraso, vamos conseguir voltar pra nossas realidades, a mocinha vai dar seu primeiro beijo, a filha do amigo vai ser a garota do ensino médio, os universitários vão saber o que é viver a universidade, loreta vai no zoológico, vamos voltar a frequentar/realizar festas de casamento e aniversários.

Vai passar e vamos ressignificar tudo isso com mais vontade de viver.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

a vida finda

Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo.  Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de  forma relativamente breve, com alguma angústia

trabalhos e trabalhos

Vi meu pai e ainda vejo minha mãe fazendo trabalho braçal pra pagar as contas. Muitos trabalhos, meu pai serviços de dedetização, sendo dono de bar, vigilante, minha mãe bordando, revendendo avon, fazendo lanches, ofício que cumpre até os dias atuais. Me pego pensando nisso dentro da sala que trabalho com o ar-condicionado em 16 graus, onde passo as manhãs e as tardes realizando consultas de enfermagem na maior parte do tempo sentada fazendo avaliações, orientações, escutas. Refleti sobre esses trabalhos também uma vez quando entrei no elevador do plantão e comentei com a moça dos serviços gerais que eu tava sentindo frio, ela rebateu que "tava era com muito calor". Penso nisso o tempo todo, como um dia desses que vi um homem de manhã carregando sozinho no ônibus duas caixas de morango pra vender ou quando o marido de uma gestante que atendo não consegue se livrar de uma lesão que deve ser causada por fungos que com certeza veio do trabalho dele na Ceasa. Trabalho é trabalho

A mãe solo

A maternidade é um vivência muito individual e particular, cada mulher de acordo com seu contexto financeiro, emocional, social poderá viver esse processo de uma forma. A maternidade é tida socialmente como uma questão (um problema) exclusiva da mulher, costumo falar em encontros feministas que os problemas privados das mulheres não podem ser privados, devem ser públicos e "coletivizados" por que as questões de uma mulher na verdade são as questões das mulheres e assim são porque foram condicionadas historicamente e estruturadas pelo machismo. Considero a maternidade em si solitária, só você é mãe daquela criança, e isso traz uma carga gigante de responsabilidade para a vida das mulheres de todas as ordens, a maioria são condicionadas socialmente, mas nem todas, porque estou falando de um laço de amor e afeto eterno na vida de uma pessoa, e quando planejada ou desejada é realmente de uma indizível emoção. A maternidade é uma experiência maravilhosamente incrível, mas também p