Pular para o conteúdo principal

a gente esquece que morre

A gente esquece que morre, até alguém morrer perto da gente. A morte sempre manda recados, independente de como ela aconteça. A gente então é avisado, ou até aprende, aí a vida segue, a gente vive e voltamos a ser imorríveis porque a gente esquece novamente que podemos partir a qualquer momento. Até morrer alguém de novo, alguém que te toque, que você sinta o impacto. É assim pelo menos pra mim.

A compreensão da finitude da vida é uma variável importante pra quem sabe do valor de viver. A vida é preciosa. Nós precisamos viver a vida que cada um de nós temos nas mãos, algumas condições de vida não são fáceis, elas são desumanas, degradantes, e ainda assim é preciso vivê-la. Estar vivo é uma oportunidade, de aprender, viver, sentir, amar, perdoar, de enfrentar as dificuldades que a vida carrega ou de ajudar a facilitar as dificuldades daqueles que estão por perto através da consciência que somos um grande coletivo.

É preciso da morte pra lembrar que a gente morre, é preciso lembrar que a vida finda. E assim é preciso ter sabedoria pra conviver com essa condição, a condição de que a morte pode estar a minutos de distância. Não estou fazendo terrorismo, muito pelo contrário, eu quero lembrar com essas linhas que precisamos viver, viver bem.

Perdi meu pai recentemente e de alguma forma carrego comigo o alívio da certeza que não ficou pendências entre nossa relação, tudo foi dito. Não ter pendências é um exercício. Se você morrer hoje, vai ficar alguma pendência? Não tô falando de conta pra pagar, ou de alguém que vamos deixar sem nossa presença, essas questões não estão sob nosso controle, me refiro a seus afetos, suas relações, seu modo de viver consigo e com os que te cercam, isso sim está no nosso controle.

Compreende? O que podemos mudar, fazer, viver hoje para estar bem? Se não depende de você, paciência, se tá nas tuas mãos, aja. Desejo a você que esta vida aqui seja boa, não seja à toa e que seja proveitosa e não apenas produtiva. Respire, se conecte com você, pare, faça a sua parte e ame. Como disse Neruda: se nada nos salva da morte, ao menos que o amor nos salve da vida.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

o cronômetro da mãe solo

22:30 e ainda estou lendo agenda escolar (eu achava que hoje daria pra terminar a leitura daquele livro que eu queria tanto, mas hoje mais uma vez não deu, tento desde o ano passado), nela encontro além dos 10 trabalhos de casa para serem entregues nos próximos dias, mais uma demanda que precisa ser cumprida sob pena de eu ser condenada como uma mãe descuidada, afinal é só uma guloseima pra comprar e entregar na escola, coisa super simples. 22:30 e desde 05:30 não paro de cronometrar o tempo (assim como todos os dias), até 06:30 eu e todas as bolsas precisam estar prontas, mas nunca estão (são pelo menos 5 bolsas que precisam ser checadas todos os dias antes de sair, com vestimentas, refeições, acessórios, materiais de trabalho), 06:30 é hora acordar a princesa para ela estar pronta até 07:00 e ela nunca está, a meta é sempre sair pelo menos 07:15 e incrivelmente tem dias que eu consigo. No trabalho avalanche de demandas, mato todas no peito, sei fazer tudo, sou boa em fazer tudo que f...

uma crônica para piolho

Se Miró ainda tivesse vivo, adoraria encontrá-lo para dizer que é verdade que "janela é danada pra botar a gente pra pensar", mas que tem outra coisa que faz a gente pensar demasiadamente sobre tudo: a danada da morte. Hoje completa 10 anos que Eduardo Campos morreu de forma trágica, um homem público, defensor dos direitos do povo, bom gestor e bom político, sua memória resgata em nós o legado deixado, João Campos por exemplo é o seu legado vivo e em ação. O povo pernambucano nunca irá esquecê-lo, nunca vamos esquecer de 13 de agosto de 2014 quando a notícia ruim correu o Brasil como rastro de pólvora e nos enlutou imediata e profundamente. Grande perda, comemoremos sempre sua vida e seu legado.  E hoje também tomei conhecimento da morte de outra pessoa por quem nutria algum ou muito afeto, "Piolho", um dos flanelinhas aqui da minha rua. Estou profundamente triste. Isso não aconteceu hoje, parece que já faz semanas e me perguntei "como ninguém me falou sobre is...

meus oito anos

       Tenho impressão que me lembro de quase tudo que aconteceu na minha vida dos meus 08 anos de idade pra cá e com muita certeza não me lembro de tanto, mas guardo algumas memórias pontuais do que vivi antes dessa idade, não sei se por que com 08 anos eu tive minha primeira mudança de cidade, de escola, de amigos e isso me fez "acordar pra vida", ou se realmente foi a idade, não sei se na verdade esse marco tem a ver com o poema de Casimiro de Abreu, lembro como se fosse ontem de quase tudo que aconteceu na minha vida depois dos 08, inclusive eu recitando tal poema para os meus pais (ainda lembro dos rostos deles achando graça e do som do riso do meu pai): "Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!"      E tenho a impressão também que com 08 anos eu achava que sabia de tudo (eu s...