Em maio de 1968, o Sol nascia em todas as partes, não se podia distinguir o Oriente. A juventude era dona do mundo, seus sonhos ditavam as regras da vida, a luta era o elemento essencial, podia-se dizer que fazia parte da natureza, as mudanças, a revolução eram o destino inevitável. Havia os fuzis das guerrilhas maoístas e guevaristas. A bandeira vermelha da foice e do martelo, com sua estrela de cinco pontas, estava ainda em mãos seguras.
Depois, mesmo que nem tudo estivesse perdido, parecia que o sonho acabou. A revolução foi adiada, mas irrompeu nos comportamentos. “Peace and Love”, “All we need is love”, eram os novos cantos, embalados por guitarras elétricas, expressões de sonhos de maconha e LSD. Havia ainda esperança, algo ainda se gestava, a juventude era ainda protagonista de sonhos e lutas.
O sol de Itamaracá não tinha ainda nascido quando o muro europeu se estilhaçou e a praça chinesa virou campo de batalha entre tropas, tanques e jovens desorientados. Quem viveu com paixão 1968, se alistou nas guerrilhas, curtiu Woodstock e acreditava com admiração e reverência nos punhos que seguraram as bandeiras vermelhas quase morreu, ao ver sonhos fenecerem e a noite dos tempos se instalar.
Longa noite dos tempos que insiste em perdurar na multidão de jovens sem horizonte, no consumismo, nas ideologias obscurantistas, no egoísmo engravatado, no conservadorismo estridente – nada mais estranho à juventude, fase da vida em que se é essencialmente revolucionário pelo simples fato de ser jovem.
Eu estava por um triz de desacreditar da juventude, é triste mirar olhares opacos e sorrisos falsos em gente jovem.
Por um triz, até o momento em que vi nascer o Sol de Itamaracá. Olhos brilhantes, atitudes de guerreira, sorriso sincero, beleza à flor da pele, esperança e rebeldia nas palavras e gestos. Quem sabe está nascendo um novo tempo. Ela dirá: “Se você está dizendo”...
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