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as testemunhas

A felicidade clandestina é boa, é gostosa e excitante. Não existem verdades absolutas, nem quero inventar uma aqui, mas talvez os amores mais intensos e bonitos venham da ideia de não poder existir, nasçam do proibido, porque neles a gente não tem que provar nada pra ninguém, a gente só sente e se for pra provar que sejam convocadas as testemunhas. 

Os lençóis, os donos dos bares e os céus são as maiores testemunhas da nossa felicidade, do nosso amor, são testemunhas fieis. E se um dia tiver um julgamento eu vou apenas dizer que sou feliz porque felicidade ainda que clandestina não deixa de ser felicidade, quando as testemunhas forem intimadas, essas talvez tenham mais a dizer que eu. 

Os lençóis vão dizer que dos amantes que eles já conheceram ou ouviram falar, nenhum deles se abraçaram com tanta ternura e querer quanto nós, sem falar da paixão quente que transbordava em suor entre nossas peles. Os donos dos bares vão achar graça, vão ficar surpresos e nos parabenizar pelo crime perfeito, eles nunca tinham imaginado que aquelas pernas que se cruzavam embaixo das mesas, aqueles risos soltos, aqueles beijos rápidos e intensos eram ilegais. 

A última testemunha a prestar depoimento não vai dizer muita coisa, os céus de fato presenciaram tudo desde o começo, e eles sabem que a vida é arte dos encontros e dos desencontros como dizia o poetinha, a única coisa que ele vai garantir é que de todos os casais do mundo, nunca viu tanto brilho nos olhos quando os dois se encontravam e nunca viu tanta tristeza quando os dois se desencontravam. 

Depois desses depoimentos não vou me importar se formos julgados culpados, pois ainda assim estarei condenada à felicidade.

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