Em cinco anos eu aprendi muita coisa, surpreendente constatar como uma Universidade te transforma, o meu único lamento não poderia se dar por outro viés que não fosse político, o meu lamento é o motivo da minha luta, queria que todos tivessem a oportunidade de estar dentro da Universidade. Hoje eu sou outra pessoa, aprendi a ser mais livre, aprendi que é obrigação dividir meu aprendizado, aprendi a ser mais humana, me descobri gente.
Acho que herdei dos meus pais esse negócio de ter sangue no olho, pra mim sempre foi natural isso de correr muito atrás do que quero, não abaixar a cabeça e ser muito firme, no decorrer da caminhada ouvi várias vezes "não sei como tu aguenta", eu achava bobagem, mas olhando pra trás de fato não foi fácil, morar a mais de duas horas de ônibus lotado da faculdade me obrigou a ter que dormir em outras casas, de parentes e amigos, minha sorte é que tenho sorte e sempre fui bem acolhida, hoje vejo que precisei disso pra saber o que é ter saudade dos meus pais, a gostar mais da minha casa, a respeitar o espaço do outro, a ser solidária, descobri que em Itamaracá "vive-se bem" e que é daqui que eu gosto, carrego também um tanto de tristeza, é que a malvada da morte me levou alguns vizinhos queridos, daqueles que quando te veem na rua te cumprimentam e querem bem, foi na correria dessa vida que não pude me despedir de nenhum, a comoção foi só de longe quando minha mãe ligava pra me informar.
Fiz a escolha de ser militante, a verdade é que aprendi mais fora da sala de aula que dentro, muitas amigas não entenderam e não entendem até hoje que quando a gente escolhe lutar pelo bom e pelo justo todas as outras coisas se tornam pequenas, se eu nunca tive vocação pra futilidade, depois do movimento estudantil não me permiti fazer parte de nada que não tivesse valor humano ou político e quando ouço palavas de agradecimento de colegas por verem em mim a porta de entrada pra esse novo mundo que se abre ao ter sua consciência política despertada, respiro em paz e feliz, me sinto de missão cumprida.
Tive que me dividir em mil várias vezes, em um dia fiz coisas que "pessoas normais" fariam em até uma semana e me esforcei como pude pra ser uma palavra muito chata, "disciplina", disciplina pra me concentrar nas aulas, disciplina pra chegar cedo nos estágios, disciplina pra ser presidente do DCE da UPE e da UEP Cândido Pinto ao mesmo tempo, não fui tão disciplinada como planejei, mas juro que tentei.
Foram algumas lágrimas, muitos sorrisos, incontáveis copos de cerveja e lapadas de cana, fui feliz no final e toda hora, tenho infinitas histórias pra contar que não cabem nem nessas linhas, obrigada a todos os amigos e amigas que tornaram a caminhada mais leve e bonita, foram cinco anos de preparação pra o que está por vir, mas aprendi também que a gente nunca tá preparado pra tudo, o que a gente precisa mesmo é de coragem, enfim, o tempo todo foi amor, um amor pra vida toda, depois de cinco anos, enfim, enfermeira!
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