Pelo direito ao aborto seguro (o aborto legal por causa de estupro e risco de vida à gestante é insuficiente a nossa realidade) quero aqui dividir um pouco do que me faz defendê-lo, é um debate muito polêmico e confesso que já tive muitas dúvidas sobre o tema e ainda tenho, mas quero falar apenas de certezas enquanto profissional de saúde e jovem socialista. Estou acompanhando nas redes sociais amigas compartilhando uma corrente "contra o aborto" com fotos de suas gestações, corrente de caráter apelativo, despolitizado e que não compreende a problemática do aborto levantadas pelos movimentos sociais e feministas.
São tantas coisas a serem pontuadas que fico até confusa pra sistematizar as ideias em uma ordem clara e lógica, mas o importante aqui é ser esclarecedora e franca. O debate sobre o aborto carrega questões no plano objetivo e subjetivo, as pessoas de maneira geral não conseguem dissociá-lo da concepção religiosa, moralista e patriarcal que percebe a mulher acima de tudo como alguém que reproduz, logo, falar da legalização do aborto é um tanto desafiador, mas vamos lá!
Antes de tudo, acho que é fundamental combater a visão patriarcal ao qual as mulheres estão submetidas, onde nós somos relacionadas à esfera privada em detrimento da pública (somos as donas de casa, as cuidadoras da família e as mães) e os homens são isentos da responsabilidade do lar e ainda assim são vistos como os "chefes da família". As mulheres são livres tanto quanto os homens pra elas serem o que elas quiserem ser, inclusive mães, a maternidade não pode ser uma sentença desde quando a mulher nasce pelo fato dela ser mulher, a maternidade deve ser acima de tudo uma escolha individual.
A gravidez começa quando o espermatozoide se encontra com o óvulo no ato sexual e a chegada de um bebê muda a vida (emocional, psicológica, hormonal, social e econômica) da gestante e de quem está em volta da gestante desde a descoberta da gravidez até o fim da vida, ou seja, muda tudo, muitas mulheres que engravidam de forma planejada ou não, se adaptam a nova realidade e assumem a responsabilidade de serem mães, porém existem aquelas que não planejaram, que o método contraceptivo falhou, que por falta de informação tava se prevenindo de maneira errada e que por algum motivo NÃO QUEREM TER O FILHO e voltando ao parágrafo anterior, muitas pessoas veem as mulheres como mães e só a hipótese de alguma mulher negar a maternidade faz com que ela seja vista quase como uma herege, portanto reafirmo que a maternidade deve ser uma escolha individual, isso nada mais é que garantir os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.
E agora, queria falar uma verdade em letras garrafais e queria que as pessoas que se dizem contra o aborto entendessem: AS MULHERES QUE NÃO QUEREM E NÃO PODEM TER SEUS FILHOS ABORTAM SENDO ISSO UM ATO LEGAL OU NÃO, VOCÊ SENDO A FAVOR OU NÃO. Não fiquem chateadas/os comigo, não fiquem chateadas/os com as mulheres que abortam, só estou dizendo a verdade nada mais que a verdade e queria dizer mais uma verdade em letras garrafais também: NENHUMA MULHER QUER ABORTAR. Se é verdade que elas não querem gerar uma criança em determinada situação e momento da vida, é mais verdade ainda que nenhuma mulher quer abortar, porque um aborto agride, é um trauma e não é só um trauma físico, é um trauma psicológico, marca a vida de uma pessoa e não quero aqui fazer juízo de valor, mas duvido que qualquer mulher que já tenha abortado seja por qualquer motivo o tenha esquecido e não carregue isso pro resto da vida, então, vamos encarar as coisas como elas são, não quer abortar? não aborta, é um direito teu, mas deixa quem quer abortar ter esse direito também.
A proibição do aborto não faz com que as mulheres que não querem ter o filho não abortem, apenas faz com que elas abortem de qualquer jeito, acho que isso resume tudo, acho que é isso que as pessoas precisam entender, eu tenho casos de amigas que engravidou com 13 anos, mas a família assumiu e garantiu o bem-estar dela e da criança, outras que engravidaram duas vezes seguidas e tiveram seu bem-estar garantido também, teve outros casos que do meu ponto de vista elas poderiam ter tido as crianças, mas abortaram com chás caseiros, cytotec, por que elas abortaram? não sei, mas elas devem saber. E lembro de em um dos casos de aborto, dela ter sofrido um forte hemorragia, mas teve que ficar sendo cuidada em casa. Compreendem o tamanho do problema?
Por esses motivos supracitados, o aborto no Brasil hoje é um problema de saúde pública, ao realizar procedimentos inseguros as mulheres morrem e não são todas as mulheres que abortam e morrem, são aquelas que o fazem em condições precárias e nós que fazemos o debate da legalização devemos sempre reafirmar essa luta por uma questão de classe. A verdade é que as mulheres que não querem ter o filho e tem condições sócio-econômicas de abortarem em boas clínicas ou sair do país para fazê-lo o fazem, essa é apenas mais uma contradição da criminalização do aborto na sociedade brasileira. Outra grande contradição que atinge as mulheres é a questão de gênero: "as mulheres não engravidam sozinhas, mas na criminalização do aborto a lei vigente isenta os homens de responsabilidade". O aborto para o homem é simples, basta ele virar as costas.
Defendo em todos os aspectos da vida que as pessoas sejam livres, eu hoje jamais faria um aborto, mas defendo a liberdade de escolha das pessoas pra que elas decidam sobre seus corpos, sobre suas vidas, defendo que aquelas que querem abortar, possam abortar com dignidade, sem discriminação, sem serem vistas como assassinas, longe de qualquer fundamentalismo religioso que defende a vida por uma determinada concepção e que possam ser vistas apenas por um estado laico que defende ou deveria defender seus direitos sexuais, reprodutivos e acima de tudo humanos. Acredito que o caminho para a emancipação e liberdade plena das mulheres no que diz respeito a essa temática se dá sem sombra de dúvidas pelo empoderamento de suas decisões a partir de uma série de políticas intersetoriais como a educação sexual nas escolas, o planejamento familiar na atenção básica, a popularização das informações através dos veículos de comunicação e a descriminalização e legalização do aborto pra que nossas mulheres não morram, mas pra isso temos muita luta pra fazer.
É urgente a reforma universitária que forme profissionais humanizados e à serviço do povo, fortalecimento e expansão dos programas Saúde da Família, reforma da mídia pra que possamos disputar a opinião pública que hoje reflete todo o conservadorismo daqueles que controlam os meios de comunicação e o mais importante pra que todas essas mudanças aconteçam, a reforma política democrática que dê oportunidades de elegermos representantes do povo e das mulheres e possamos conquistar um congresso nacional livre do fundamentalismo religioso, livre de conservadorismo e que enxergue as necessidades dos seus eleitores, por uma sociedade menos desigual, mais solidária e justa!
Defendo em todos os aspectos da vida que as pessoas sejam livres, eu hoje jamais faria um aborto, mas defendo a liberdade de escolha das pessoas pra que elas decidam sobre seus corpos, sobre suas vidas, defendo que aquelas que querem abortar, possam abortar com dignidade, sem discriminação, sem serem vistas como assassinas, longe de qualquer fundamentalismo religioso que defende a vida por uma determinada concepção e que possam ser vistas apenas por um estado laico que defende ou deveria defender seus direitos sexuais, reprodutivos e acima de tudo humanos. Acredito que o caminho para a emancipação e liberdade plena das mulheres no que diz respeito a essa temática se dá sem sombra de dúvidas pelo empoderamento de suas decisões a partir de uma série de políticas intersetoriais como a educação sexual nas escolas, o planejamento familiar na atenção básica, a popularização das informações através dos veículos de comunicação e a descriminalização e legalização do aborto pra que nossas mulheres não morram, mas pra isso temos muita luta pra fazer.
É urgente a reforma universitária que forme profissionais humanizados e à serviço do povo, fortalecimento e expansão dos programas Saúde da Família, reforma da mídia pra que possamos disputar a opinião pública que hoje reflete todo o conservadorismo daqueles que controlam os meios de comunicação e o mais importante pra que todas essas mudanças aconteçam, a reforma política democrática que dê oportunidades de elegermos representantes do povo e das mulheres e possamos conquistar um congresso nacional livre do fundamentalismo religioso, livre de conservadorismo e que enxergue as necessidades dos seus eleitores, por uma sociedade menos desigual, mais solidária e justa!
Saudações socialistas!
"Os países que têm leis liberais - como Holanda, a Bélgica e a Suiça - apresentam as taxas mais baixas, com menos de 10 abortos induzidos por 1.000 mulheres. Nos países em que o aborto é restrito por lei as mortes maternas são, em média, trinta vezes mais frequentes comparando-se com os países em que o procedimento de aborto é legal a partir da solicitação da mulher. Países como o Chile e o Peru, que têm legislações muito restritivas, as taxas são de mais de 50 abortos induzidos por 1.000 mulheres. Entretanto, em países como Cuba e o Vietnam, em que as leis são muito liberais, porém o acesso aos métodos contraceptivos é muito limitado, as taxas alcançam aproximadamente 80 para cada 1.000 mulheres."
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