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dos gritos do dia vinte e três

Quando todos os barulhos que me cercam calam por algum instante, dentro de mim ouço gritos. Gritos de tudo que eu sou, gritos das minhas saudades que não são poucas, gritos dos meus sonhos que são infinitos, gritos daquilo que com o barulho de fora não ouço direito por dentro e ficam sufocados, presos, esperando só um pouco de silêncio pra poder respirar. Acho que a gente é aquilo que pensa quando tá sozinho, quando não tem ninguém olhando, acho que a gente é aquele instante de solidão que faz a gente sentir aquilo que a gente é, uma lembrança antiga, um rabisco no caderno da escola, um encontro que ficou lá atrás, a vontade de fazer uma coisa diferente no outro dia. A vida é tão engraçada e bonita, a gente é tanta coisa, bem que as pessoas podiam ser mais humanas, bem que as pessoas podiam reconhecer nos olhos do outro as tantas vidas que existem dentro de um só ser e assim se enxergar no outro, todo mundo grita por dentro, todo mundo uma hora é solidão e os gritos que vem de dentro podem ser diferentes, mas eles surgem da igualdade de ser humano.  

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