Quando todos os barulhos que me cercam calam por algum
instante, dentro de mim ouço gritos. Gritos de tudo que eu sou, gritos das
minhas saudades que não são poucas, gritos dos meus sonhos que são infinitos,
gritos daquilo que com o barulho de fora não ouço direito por dentro e ficam
sufocados, presos, esperando só um pouco de silêncio pra poder respirar. Acho
que a gente é aquilo que pensa quando tá sozinho, quando não tem ninguém
olhando, acho que a gente é aquele instante de solidão que faz a gente sentir
aquilo que a gente é, uma lembrança antiga, um rabisco no caderno da escola, um
encontro que ficou lá atrás, a vontade de fazer uma coisa diferente no outro
dia. A vida é tão engraçada e bonita, a gente é tanta coisa, bem que as pessoas
podiam ser mais humanas, bem que as pessoas podiam reconhecer nos olhos do
outro as tantas vidas que existem dentro de um só ser e assim se enxergar no
outro, todo mundo grita por dentro, todo mundo uma hora é solidão e os gritos
que vem de dentro podem ser diferentes, mas eles surgem da igualdade de ser
humano.
Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo. Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de forma relativamente breve, com alguma angústia
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