Sempre falo que depois que entrei no movimento estudantil e adquiri consciência de classe entendi que a luta em defesa do povo é a luta do óbvio, é óbvio que o trabalhador deve ganhar proporcionalmente a força de trabalho que ele vende, é óbvio que o fato de ser mulher não pode diminuir meus direitos, é óbvio que ser negra não pode ser motivo de discriminação na hora de ocupar um cargo numa empresa, É ÓBVIO QUE IMPEACHMENT SEM CRIME É GOLPE!
Eu tinha 10 anos quando Lula foi eleito pra presidente pela primeira vez, eu não tinha noção da vida política do país, então não por consciência mas pela influência das pessoas que me cercam, eu senti uma alegria imensa com aquela vitória, lembro de ir eufórica pra escola de bicicleta com uma estrelinha do PT no peito, eu não sabia do que exatamente, mas meu sentimento era de orgulho. Eu tava certa em me sentir orgulhosa e a história nos mostrou que sim, era de eleger Lula que o povo precisava naquele período, a história nos mostrou que votamos em 2002 pela inclusão social de milhões de brasileiros e brasileiras, pela auto-estima do nosso povo e pela soberania do país.
Lembro que agora recentemente na reeleição de Dilma, conversando com um taxista (eles são péssimos em análise de conjuntura, um amigo diz que são um fenômeno a ser estudado, mas me surpreendi dessa vez) ele disse que votaria em Dilma porque antes de Lula no interior só se fazia uma refeição por dia e agora todo mundo faz três. Quer saber? Eu não sou cega, sei que os governos Lula e Dilma tiveram acertos e muitos erros, muitas contradições, mas eu como ser humano tão humana que sou, jamais vou deixar de fazer a defesa desse legado: a dignidade do povo pobre. Eu faço parte desse povo, meu irmão faz engenharia pelo PROUNI, minha mãe é uma pequena empresária vendedora de lanches e meu pai escolheu ser desempregado e hoje é comerciante. Eu tenho lado!
Do mesmo jeito que a história mostrou que eu estava certa em me sentir orgulhosa com a eleição de Lula mesmo sem entender direito o que tava acontecendo, somente a história vai mostrar aos que não tem noção, o que significa esse golpe político-jurídico-parlamentar-midiático pra o povo, não é Dilma, não é Lula, o golpe é no povo, a história vai nos mostrar as faces da moeda e vai cobrar aos responsáveis por esses escrachos que estamos sendo obrigados a assistir, é assim que as juventudes organizadas tem intitulado ações pra denunciar os golpistas pra sociedade, "escrachos", mas sinceramente, quem tá escrachando (e peço licença pra repetir essa palavra com variações) com a cara da gente são os golpistas.
Escrachada tá a política, escracho foi aquela votação da Câmara do Deputados que parecia um show de comédia ou um programa da Xuxa, escracho foi aqueles deputados votarem por tudo menos por uma justificativa concreta contra Dilma, escracho é Dilma ser afastada sem ter cometido crime, escracho é Michel Temer assumir (sendo que era o vice dela) e montar um novo governo como se o mesmo não tivesse nenhuma responsabilidade com o governo anterior, escracho é o novo Ministro da Saúde dizer que "tem que rever o tamanho do SUS", escracho é não ter mulheres nem negros no Governo, escracho é ver claramente que os ministérios estão divididos de acordo com a base de apoio dos deputados que foram a favor do impeachment, ESCRACHO É OUVIR O ÁUDIO QUE VAZOU DE ROMERO JUCÁ.
Tá muito escrachado sabe? Ainda bem que eu tenho lado e do lado que eu tô tem muita consciência do que tá acontecendo e tem muita luta, nós não vamos desistir de fazer o povo entender o golpe nos nossos direitos e no nosso legado, é pela dignidade do povo brasileiro, é pela perspectiva de ser feliz e ter oportunidade de ocupar os espaços de poder que nós vamos ser linha de frente dessa luta que precisa ganhar força pra barrar o golpe que foi dado no voto de milhões de 'esperançados' em 2014.
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