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sentindo.

Conclui recentemente o meu 8º semestre no curso de enfermagem na UPE, passei alguns dias na emergência do PROCAPE (o procape é uma referência em atendimento cardiológico), lá pude aprender muito, sou uma aprendiz diária, acho que sei meu lugar nesse mundo e sempre tento passar mensagens através deste blog, nós estamos aqui pra aprender! Me emocionei em diversos momentos, que bom que posso escrever e dividir algumas coisas por aqui. Um dia desses aprendi com Luciano Siqueira o significado da palavra 'compaixão', "colocar-se no lugar do outro" e fui compaixão da cabeça aos pés, sou daquelas que se entrega e topa o que vier e muitas vezes doeu. Vi filhas e filhos levando seus pais com dor no peito, pressão alta, eles chegavam desesperados, tinha tanto medo nos olhos deles, que me vi levando o meu pai naquela mesma emergência há mais ou menos um ano atrás, conheço de perto aquele medo de perder quem a gente tanto ama e não somente os filhos, mas netos, vizinha, tia, sobrinha. Reparei em maridos e esposas dedicados, cuidando dos seus companheiros com tanta ternura que consegui ver beleza no meio da confusão, não dormiam, não comiam direito, provavelmente também estavam com medo, mas se mantinham firmes em seus postos de cuidar de quem se ama. Ri de alguns pacientes na hora da triagem, por achar engraçado o jeito deles se expressarem o que estavam sentindo, não ri por maldade e muitas vezes cheguei a conclusão que os hospitais atraem almas que estão perdidas e à procura de ajuda e não é só ajuda física, às vezes as pessoas só querem um pouco de atenção, um aperto de mão, ouvir um "vai ficar tudo bem". Fiquei triste ao ver alguns pacientes padecerem, fiquei feliz vendo muitos recebendo alta. Aprendi e pude exercitar alguns procedimentos técnicos, quem é estudante de enfermagem fica radiante com essas oportunidades, mas melhor que isso é sair de lá convencida que o destino te colocou na profissão certa, que pra ser uma grande enfermeira muitas vezes não precisa de dominar amplamente os conhecimentos teóricos, mas precisa se policiar todos os dias pra não ligar o “modo mecânico” e lembrar de ser humano e a cada pedido de um paciente que por mais que pareça bobagem, que ele tem uma história de vida, que ele tem medo e que um simples toque de mão, uns dez minutinhos de conversa podem mudar o dia de um internamento pra ele, falo isso sem hipocrisia nenhuma e é exatamente como uma professora falou no início da graduação, a cada procedimento que for fazer olhe pra seu paciente como s fosse seu pai, seu avô, sua mãe, seu primo ou como citei a compaixão lá em cima, se coloque no lugar dele! Foi também difícil pra mim que sou espírita e socialista, ver tanta gente em condições de fazer qualquer um que tem coração tremer de indignação! Mas esse é o desafio, precisamos de mais profissionais de saúde que compreendam seu papel principalmente como agente transformador, nada é assim por que é assim, tudo é dinâmico e pode mudar, basta querer. Semestre que vem quero voltar pra lá!

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