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Política da natureza – Jardim de borboleta - Sertão

Vamos voltar para casa,
Pra nossa mãe natureza,
Quero sentir que sou asa
Sem precisar avião.
Vamos pescar a pureza
No poço da ilusão,
Lá vai ter vida à vontade,
Nem precisa cidade
Pra morar no coração.

Uma família de flores
De tanta delicadeza
Trabalha coando as cores
Que passam pra natureza.
Modernizam seu curtume
Para ter sempre um perfume
Se misturando no ar
O cheiro a dispor do vento
Vai dizendo o alimento
Que é servido no pomar

Uma raposa parida
Em uma sombra de Lua
Continua a sua vida
Na vida que não é sua.
Durante os primeiros dias
Alimenta suas crias
Com temperos naturais, O leite mina aquecido
Como se fosse fervido
Pelos fogões maternais

As aves de pedacinhos
De galhos que já viveram
Conseguiram formar ninhos
Onde os seus filhos nasceram.
Sem calcular as bagagens
Ou as diversas viagens
Ao mundo dos vegetais,
Nos provam que a natureza
Se mantém numa pureza
Que não enxergamos mais.

Os formigueiros trabalham
De maneira tão bravia
Que os alimentos encalham
Nas reentrâncias da via.
Percorrem sob o verão
Atrás de cada quinhão
Que alimente aos demais,
A natureza á a crítica
Para que nossa política
Pense como os animais.

Eu admiro demais 
A borboleta voar, 
Quem durante toda a vida 
Só pôde se rastejar Talvez seja quem mais saiba 
Qual o valor de lutar. 

A borboleta no ar
Chega voa diferente.
Quem se deixa pelo vento
Pra entender sua mente,
Goza de tanta inocência
Que pousa na nossa frente.

A lagarta no feijão,
Depois que o inverno pega
Parece que chega cega
De tanta satisfação.
Consegue voar o chão
De sua felicidade.
Aproveitando a idade
Nem pensa no que não sente,
Como que se fosse a gente
Nadando na mocidade.

Eu fico me caducando:
Como pode o mesmo ser
Se rastejar pra viver
E depois sair voando?!
Será mesmo nos provando
Os dotes da realeza?
Pra tamanha sutileza
Não sei se cabe arquiteto.
Quem não quis fazer o teto, Fez o céu na natureza.

Entrando uma borboleta
Na sua casa, receba,
Pois talvez ela só beba
E volte para o planeta.
Mesmo a coisa estando preta,
Procure a felicidade.
A borboleta, à vontade,
Escolheu a sua casa.
Quem sofreu pra criar asa
Entende de liberdade.

Eu não vou me atrever
Em falar da migração
Que acontece no sertão
Quando é tempo de chover,
Mas todos conseguem ver
As borboletas migrando,
É quando elas tão voando
Numa mesma direção
Deixando uma impressão
Que as flores tão se mudando.

O que deverá pensar
Uma borboleta, quando
Encontra na sua frente
Uma lagarta mudando?
Esse mundo não é meu,
Deixa ele lá se pensando.

Não tem coisa melhor que ir chegando
Numa casa que vive do roçado
E o cheiro do milho cozinhado
Já está no terreiro se espalhando,
Como se estivesse convidando 
A pessoa que chega, pra entrar. 
Quem não teve o prazer de visitar 
Uma boa família do sertão, 
Vai morrer sem saber que o coração 
É o melhor canto de aconchegar. 
 
Eu defendo o meu sertão 
Que após a terceira chuva, 
Começa a passar saúva 
Nas plantações de feijão, 
E o camponês ergue a mão 
Pra receber energia, 
Sai pra o trabalho de dia 
Só volta de tardezinha 
Quando plantou batatinha, 
Feijão, milho e melancia. 
 
Eu defendo um pé de serra, 
Onde um riacho pequeno 
Junta e espalha um sereno 
Que ajuda a arar a terra, 
E entende a guerra 
Como a civilização, Pois a guerra no sertão 
É pra plantar e colher 
O que der para comer 
E enfrentar o verão. 
 
Defendo um semideserto 
De chuva pouca e tardia 
Juntar no final do dia 
A vizinhança por perto, 
Pois um do outro é coberto 
De respeito e oração, 
Que se em um tiver feijão 
No outro tiver arroz, 
Cozinha um baião de dois 
Pra começar o baião. 
 
Caio Meneses

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