"Boa tarde" disse o homem que estava descarregando um caminhão de gás de cozinha enquanto me viu passar na rua, poderia ser um cumprimento cordial como qualquer outro vindo daqueles que tem educação, mas primeiro o que determinou o "boa tarde" é o fato de eu ser mulher, depois, eu tava sozinha, duvido muito que ele desejasse "boa tarde" se eu tivesse acompanhada do meu pai ou de um namorado, além de sozinha meu short era curto e minha blusa também, dava pra ver minha barriga, meu piercing no umbigo e minha tatuagem na cintura, poderia ainda ser de fato um cumprimento cordial, mas aquela entonação nojenta não me deixou dúvidas, foi um "boa tarde" escroto e nojento como a barba dele.
Moço, talvez você ache que é exagero esse meu registro, moça, você deve estar me entendendo perfeitamente bem. Eu não fiquei calada, claro. Rebati o "cumprimento" ofensivamente, por que me senti ofendida e o mais importante, eu tinha condições de rebater, de xingar e se eu não tivesse? E se a rua fosse estreita e escura? E se ele tivesse mais próximo? E se ele quisesse me mostrar que tem força? E se ele quisesse me violentar? Eu pensaria em tudo isso e ficaria calada com medo.
Eu quero liberdade pra todos e principalmente todas, eu quero as mulheres livres da intimidação, do constrangimento e do medo, eu quero homens que tenham consciência dos seus atos, palavras e cantadas, nada disso é pequeno. Eu não tive medo daquele homem por que eu pude rebater, mas e quando eu não puder? Tem "boa tarde" que tem o mesmo valor de uma encoxada no ônibus.
Homens e Mulheres, uní-vos!
O respeito e o altruísmo devem andar lado a lado. Infelizmente há quem confunda respeito com medo. Esse tipo de gente só teme quem respeita, e só respeita quem teme.
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