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sapato, dedo no nariz e pitanga

Ele ficou achando que se faltasse inspiração era sinônimo de falta de querer, isso deixou ela incomodada, não fazia sentido, falta de inspiração não é sinônimo de  falta de poesia e a poesia entre eles ainda não dava sinal de esgotamento, pelo contrário. Mas como boa amante que não quer deixar o bem querer com dúvida alguma sobre o sentir, permitiu que a inspiração deixasse ela escrever mais um registro sobre os dois. Dessa vez um registro que possa publicar, porque os últimos dois estão muito bem guardados pra que ninguém tenha acesso ao mundo que eles estão descobrindo, que só pertence a eles. 

Fechou os olhos em busca do que tinha ficado gravado dos últimos encontros, entre coisas concretas e abstratas, lembrou de ter observado que os sapatos com as meias dele tinham ganhado um lugar fixo fora da casa, foi quando calculou que agora podia contar também com os minutos que ele leva pra poder calçá-los antes ir embora, porque quando a gente gosta todo minuto a mais é um minuto a mais pra poder gostar de perto de quem a gente gosta. Lembrou do dedo dele dentro do nariz, mas não achou ruim, gostou até, somente intimidade e despreocupação com quem se está acompanhando nos permite fazer algumas coisinhas.

Lembrou do cheiro de pitanga que dona Nila presenteou os dois, ele na verdade, mas ela se agradou tanto daquela fragrância que se sentiu presenteada também, o cheiro da pele dele era bom, mas agora tinha ficado melhor. A cabeça pousada no ombro encontrou mais um motivo de ser, era pedido de aconchego e também prazer de sentir aquele cheiro. Lembrou de tanto ele lembrar que não podia esquecer que a marca na frente da casa era um pedido pra lembrar dele, como se precisasse de pichação, cartaz ou outdoor pra que a mente dela reproduzisse em qualquer hora do dia eles dois.

Ele tava ocupando tudo, não precisava se esforçar muito pra descrever o que acontecia entre eles, apesar deles terem decidido não se descreverem. Mas se é pra não deixar de registrar, ela escreve sobre essas lembranças com prazer, outras ficam guardadas porque elas moram como já disse no mundo que só pertence a eles.




  

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