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Vida de maloqueiro, vixe é muita treta!

Maloqueiro que é maloqueiro é tabacudo o suficiente pra divertir toda sua galera; maloqueiro que é maloqueiro aprende que a gente tem que brindar o hoje porque o amanhã só pertence a Deus; maloqueiro que é maloqueiro vai pra festa de quem nem conhece na maior tranquilidade e ainda tira onda, fura o olho do amigo sem o menor peso na consciência (às vezes), faz funk pra arriar com outras galeras, pixa muro, vende loló, enfim, quem já foi maloqueiro um dia nunca deixa de ser.
Desde os meus 13 anos me relaciono com esse tipo de gente e que tipo de gente viu? Me encantei. Eles me atraiam de um jeito que tudo o que eu queria era tá perto deles ouvindo as histórias mais doideiras do mundo. Eles pixavam de madrugada só pra deixar a marca deles com vulgo e lugar de onde são, corriam de guarda, polícia e de bala, um arrumava briga e todo mundo entrava, lembro uma vez quando esvaziaram uma prateleira de whisky do mercado em menos de 3 horas. 
MEU DEUS, COMO EU ME DIVERTIA COM ESSES MENINOS!
A ingenuidade de menina que eu ainda era, não deixava eu enxergar o perigo que eu corria perto dessas pestes. Mas de pouquinho em pouquinhos a ficha foi caindo e eu percebi que vida de maloqueiro não é brincadeira e é coisa muito séria. Começou quando eu perdi Dudu, eu não entendia os motivos, ouvia de alguns que tinha sido por causa de dívida de drogas, por engando, não sei o certo. Eu tinha 14 anos, ele tinha 22, era ex-namorado de uma menina muito doida que eu tive a oportunidade de conhecer, ele era todo tatuado, tinha uma moto massa e eu fiquei com ele já tinha ficado com ele umas duas vezes. Caramba, eu sentava em mesa de bar com ele, de fato, eu não tinha noção do perigo! 
E continuei sem ter, porque depois de Dudu eu conheci os meninos de Arthur Lundgren 2 - Paulista. Acho que de todas as galeras que eu "transitei", a galera de Arthur foi a que mais me conquistou, deve ser por que eu namorei um deles por um ano e meio e pude conviver melhor e também por ter sido a melhor galera que a perda de Bosk deixou tanta saudade em mim. Pois é, eu tava com 16 anos e diferente da minha relação com Dudu, com Bosk era clima de "brodagem", eu sempre conversava com ele pelo msn e a gente ria de muita besteira, lembro que uma vez ele disse que eu era a alegria dele, além de me chamar de "menina malukinha" quando falava comigo, eu realmente adorava Leo Bosk. Quando soube a notícia da morte dele na saída de uma baile funk no arruda se eu não me engano, eu não acreditei, minha alma caiu em pranto e nesse mesmo mês uma menina da escola tinha sido assassinada pelo marido, um rapaz conhecido também morreu de acidente de carro e uma galera tinha sido presa, foi o mês dos horrores! A tristeza tava impregnada em mim. O porquê da morte de Bosk eu jamais soube e nunca me interessou, sentir falta dele já é doloroso demais. E vi outros abandonando a vida cedo, "o russo", Curinga de Abreu e Lima, Loid do Arruda, Titi de Cruz de Rebouças, Gustavo Amaca de Arthur e Paulista de Arhur também. Alexandre Paulista como ele gostava de ser chamado e que eu chamava carinhosamente de "primo" se foi em maio do ano passado, o mais recente até então. Agora eu com 19 anos, não mais ingênua, entendendo e descordando das circunstâncias observadas, recebi a notícia e me mantive fria, talvez. Eu tive minhas histórias vividas com aquele doido e me diverti muito inclusive, mas a vida me afastou dos meninos e mais ainda dele, que esteve preso por vários meses e já não era mais o mesmo. O meu "primo" tinha mudado, não era mais aquele maloqueiro abestalhado e doido e nem ouso falar o que acho que ele se tornou. Foi triste perdê-lo, mas é o preço que se paga diante de algumas escolhas que a gente faz!
MEU DEUS, COMO EU SOFRI POR ESSES MENINOS!
De todos os que não morreram, estão presos ou deixaram essa vida e continuam a me fazer feliz. Aprendi com eles a ser doida e fazer besteira de vez em quando, que tem muita gente ruim no mundo, que o tráfico de drogas mata e faz adoecer famílias, sei lá, tanta coisa que nem cabe aqui. E hoje eu afastada de quase todos, porém sentindo o mesmo amor de antigamente, eu me pego algumas vezes pensando, refletindo sobre tudo que já vi, ouvi, entendi, sorri e chorei e eu sempre concluo meus pensamentos tendo a certeza que eu não seria a mesma se eu não tivesse conhecido essa galera.
MEU DEUS, COMO EU APRENDI COM ESSES MENINOS!

Paulistinha






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