Pular para o conteúdo principal

Só nos domingos


Quando muitos estão nos almoços de família, no cinema, no parque, na praia, eu consigo vê-los nas calçadas, nas esquinas, nas praças. É nos domingos, quando as ruas estão vazias e o comércio está fechado que os invisíveis dos dias de semana ganham formas, cores, rosto e pena. Já faz algum tempo que venho formulando algumas ideias depois de perceber que eu só consigo reparar nos moradores de rua nos dias de domingo. Passamos a semana inteira na correria no centro da cidade, andamos, namoramos vitrines das lojas, enfrentamos o trânsito infernal,  paramos em alguns vendedores ambulantes, encontramos conhecidos e eles estão lá . Todos temos muita coisa pra fazer do que reparar em mendigos, não temos tempo de olhar, sentir compaixão. Nossa indiferença os deixam invisíveis. Mas nos domingos, pelo menos nos domingos, quando eu consigo ver que eles são muitos, são homens, mulheres, idosos, crianças, quando só assim eu me indigno com essas condições de vida, eu me sinto um lixo. Me sinto mal. Eu sinto pena, eles sentem fome e sede de dignidade. Talvez muitos deles nem saibam o que significa viver dignamente. Mas eles devem sentir a vontade de serem notados de vez em quando. Eu fico pensando, quais os medos, sonhos, angústias, esperanças, desejos alimentam as almas dessas criaturas?


Senhores comunistas, lutai por nós!
Senhor Deus misericordioso, rogai por nós! 

Comentários

  1. Senhores comunistas, lutai por nós!
    Senhor Deus misericordioso, rogai por nós!

    é isso!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

o cronômetro da mãe solo

22:30 e ainda estou lendo agenda escolar (eu achava que hoje daria pra terminar a leitura daquele livro que eu queria tanto, mas hoje mais uma vez não deu, tento desde o ano passado), nela encontro além dos 10 trabalhos de casa para serem entregues nos próximos dias, mais uma demanda que precisa ser cumprida sob pena de eu ser condenada como uma mãe descuidada, afinal é só uma guloseima pra comprar e entregar na escola, coisa super simples. 22:30 e desde 05:30 não paro de cronometrar o tempo (assim como todos os dias), até 06:30 eu e todas as bolsas precisam estar prontas, mas nunca estão (são pelo menos 5 bolsas que precisam ser checadas todos os dias antes de sair, com vestimentas, refeições, acessórios, materiais de trabalho), 06:30 é hora acordar a princesa para ela estar pronta até 07:00 e ela nunca está, a meta é sempre sair pelo menos 07:15 e incrivelmente tem dias que eu consigo. No trabalho avalanche de demandas, mato todas no peito, sei fazer tudo, sou boa em fazer tudo que f...

meus oito anos

       Tenho impressão que me lembro de quase tudo que aconteceu na minha vida dos meus 08 anos de idade pra cá e com muita certeza não me lembro de tanto, mas guardo algumas memórias pontuais do que vivi antes dessa idade, não sei se por que com 08 anos eu tive minha primeira mudança de cidade, de escola, de amigos e isso me fez "acordar pra vida", ou se realmente foi a idade, não sei se na verdade esse marco tem a ver com o poema de Casimiro de Abreu, lembro como se fosse ontem de quase tudo que aconteceu na minha vida depois dos 08, inclusive eu recitando tal poema para os meus pais (ainda lembro dos rostos deles achando graça e do som do riso do meu pai): "Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!"      E tenho a impressão também que com 08 anos eu achava que sabia de tudo (eu s...

uma crônica para piolho

Se Miró ainda tivesse vivo, adoraria encontrá-lo para dizer que é verdade que "janela é danada pra botar a gente pra pensar", mas que tem outra coisa que faz a gente pensar demasiadamente sobre tudo: a danada da morte. Hoje completa 10 anos que Eduardo Campos morreu de forma trágica, um homem público, defensor dos direitos do povo, bom gestor e bom político, sua memória resgata em nós o legado deixado, João Campos por exemplo é o seu legado vivo e em ação. O povo pernambucano nunca irá esquecê-lo, nunca vamos esquecer de 13 de agosto de 2014 quando a notícia ruim correu o Brasil como rastro de pólvora e nos enlutou imediata e profundamente. Grande perda, comemoremos sempre sua vida e seu legado.  E hoje também tomei conhecimento da morte de outra pessoa por quem nutria algum ou muito afeto, "Piolho", um dos flanelinhas aqui da minha rua. Estou profundamente triste. Isso não aconteceu hoje, parece que já faz semanas e me perguntei "como ninguém me falou sobre is...