Em 2016 fui candidata à vereadora em Recife pelo meu partido, o PCdoB, quando se é candidata/candidato você precisa ter onde pedir votos, onde e a quem, definimos que meu lugar/pessoas seriam as universidades/estudantes, principalmente a que me formei, por ter maior inserção e relações políticas e pessoais. Mas claro, queríamos alcançar (eu falo no plural porque era um projeto coletivo) o maior número de pessoas possíveis e não só o público restritamente universitário, então buscávamos abrir os mais diversos diálogos, como batalhas de rap, visitas em casa de familiares dos amigos e amigas, hospitais devido a minha formação de enfermeira, grupos de dança, enfim, uma variedade de lugares/pessoas.
Além de ter esses "alvos" sempre planejávamos atividades que pudessem ter algum retorno concreto nas urnas, jantar de adesão de campanha, aniversários, chá de fraldas (na ocasião eu estava bem grávida) e o de praxe, panfletagens. Bem, fizemos nossa campanha dentro das limitadas condições que tínhamos e visualizamos um determinado quantitativo de votos, um "mapa" como a gente chama, a maioria dos votos sairiam, claro das relações das universidades e dos familiares das pessoas mais envolvidas na campanha, no final de tudo, não sei se foi assim, foram 760 ou 740 votos suados que nosso projeto conquistou, talvez tivéssemos mais votos se conseguíssemos falar pra mais pessoas, se tivéssemos mais visibilidade, ou talvez fosse preciso que a candidata que vos escreve fosse melhor, não sei.
Mas tiveram algumas coisas que me deixaram feliz nessa experiência, como o voto de sueli. No dia da eleição meu telefone toca e a pessoa fala:
- Melka, eu votei em você, boa sorte.
Em todos os panfletos tinham meu número pessoal e foi através de um deles, que ganhei uma eleitora e uma ligação com valor tão importante pra mim. Sueli foi o voto mais improvável, veio das atividades dispersas, a panfletagem, ela era uma funcionária que fazia parte do hospital universitário, panfletávamos lá na frente porque era o principal acesso do hospital e da faculdade. Na ligação eu perguntei onde ela estava, ela disse que tava no trabalho, eu morava ao lado, fui pra conhecê-la e agradecer pessoalmente pelo voto de confiança através de um simples panfleto. Fui lá, dei um abraço e tirei uma foto, não esqueci mais o seu rosto.
Depois de um tempo, acho que uns dois anos, a encontrei na parada de ônibus na encruzilhada, ela lembrou somente depois que falei meu nome e que era a candidata que ela tinha votado, a encontrei até hoje mais duas vezes, a última foi ontem, ela sempre demora uns segundos pra lembrar quem eu sou, interage com simpatia, me diz onde mora e me pergunta sobre a política, se vou ser candidata de novo e eu respondo com alguma rejeição que não, que no momento tenho outras prioridades, e ela sempre faz uma expressão como se dissesse "é, não tem jeito pra política mesmo" e depois me sinto culpada pela forma como respondi, porque ao invés de eu reacender a esperança que ela pode ter sentido votando em mim, eu apago.
Não sei se outras pessoas votaram em mim por causa de um panfleto, mas o voto de sueli foi um grande presente e todas as vezes que eu a encontrar na encruzilhada, vou cumprimentá-la com grande carinho, mas vou tentar me policiar pra ser menos dura com a política e quem sabe apresentá-la a outra candidata que ela possa depositar o voto mais uma vez.
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