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obviedades em meio ao caos

Nada é tão humano quanto uma doença, nada é tão humano como estar doente, os processos biológicos de nascer, reproduzir, adoecer, morrer validam em nós a ideia da igualdade. Somos iguais perante a morte. Não tem nada pior pra cada um de nós que uma doença, ou até mesmo qualquer coisinha, sabe uma afta? Incomoda bastante, deus me livre. Eu li em algum lugar dos estágios que passei na faculdade, algumas coisa do tipo "a doença nos torna estranhos a nós mesmos", é como se aquela condição que a gente está não fosse a gente, porque não é nossa normalidade e isso causa um sentimento melancólico/triste de estranheza. 

Eu tava com ideias de escrever sobre outras coisas até uns dias atrás, mas não dá pra rolar fuga ao tema nessas condições, só pensamos juntos em uma única coisa e vamos ter que passar por isso, então vou fazer meu registro, como era de costume, sobre o que passa aos meus olhos.

Acredito que muitos de vocês ao menos já "passaram a vista" nas várias formulações de opiniões sobre as tantas coisas que envolve a pandemia do coronavírus, eu confesso que não leio todos os links, só vejo o título da matéria e daí já tiro minhas conclusões sobre aquilo, errado né?

Mas independente de não ter lido muito, tem coisas que acho que estão bem óbvias, ou não? Eu costumo dizer que defendo o óbvio (pra mim), então vamos as obviedades...

Vamos ter uma tarefa quando esse caos passar, fazer o que o presidente Lula começou a fazer, falar sobre o papel do Estado (que também não ouvi tudo que ele disse), de um Estado de bem-estar social, porque se somos iguais na hora de morrer, em vida tem muitas coisas que nos difere. 

Precisamos dizer as pessoas que não pode ser cada um por si, cada um por seu trabalho, cada um pelo dinheiro que consegue ganhar para poder viver, a gente precisa dizer que precisamos de um Estado forte, porque é isso que as pessoas querem, as pessoas digo aqui a maioria da população trabalhadora ou sem trabalho, óbvio.

Pra começar, sabem que o coronavírus não vai embora né? Vai continuar existindo junto com tantas outras doenças que nos acomete. Por exemplo, o sarampo, depois das vacinas e das campanhas para a população fazer sua parte, passamos muito tempo sem casos de sarampo, mas aí com essa história de campanha anti-vacina, depois de um tempo começaram a surgir novos casos. Isso é um exemplo recente só pra ilustrar, que o que eu tô querendo dizer é que vamos ter que fazer nossa parte, combater o coronavírus e conviver com eventuais (um futuro próximo se a ciência puder ou deus quiser, vai saber) casos. 

Mas pra isso acontecer a gente precisa produzir uma vacina que nos proteja, produzir um medicamento específico pra evitar complicações e morte, que leva tempo, custa dinheiro, e investimentos e com certeza com tanta inovação e tecnologia que existe atualmente, alguém vai conseguir. Mas precisamos investir em ciência, inovação e tecnologia, o Estado precisa investir para que seja um bem público disponível e comum a todos e todas nós obviamente.

Temos o maior sistema público de saúde do mundo e é óbvio que ele não consegue estar a serviço de todos nós, mas é óbvio que ele precisa melhorar, o Estado precisa investir em saúde, para que quando quem precisar ter acesso a serviços de qualidade e resolutivos, medicamentos necessários, profissionais capacitados, os serviços estejam lá disponíveis.

É óbvio que as pessoas precisam de dignidade pra sobreviver e os direitos sociais básicos como renda, moradia, educação, saneamento, alimentação, lazer é um privilégio de poucos, mas se a gente tiver um Estado do bem, a gente pode melhorar as condições de vida de todo mundo e oferecer alguma dignidade que faça as pessoas se sentirem gente.

Precisamos falar disso pras pessoas, do óbvio ideal para quem defende o justo e o bom. E assim, as pessoas, inteligentes que são, vão saber discernir que é óbvio que o atual presidente não serve para o cargo que ocupa e o povo que representa.

E por último e mais importante, o coronavírus nos obriga a admitir que nós somos um só povo, estamos todos aqui e agora, nascendo, vivendo, reproduzindo, adoecendo e morrendo, sem nenhuma diferença entre fronteiras ou continente. O coronavírus nos obriga a dar as mãos (no sentido figurado, claro porque é hora de soltar e lavar as mãos), a reconhecer a união dos povos como a única alternativa para nossa sobrevivência, a entender e exercer sentimentos de solidariedade e compaixão.

Sobreviva. 


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