Pular para o conteúdo principal

Por que ele pode e eu não posso?

Se você é mulher, com certeza já fez essa pergunta milhões de vezes em diversas circunstâncias da dura vida feminina. Seja pro seu pai quando ele permitiu que seu irmão saísse e você não, ou seja pra você mesma quando é atacada injustamente por fazer o que sente vontade e as pessoas te discriminam "porque isso não é coisa de mulher". 

Ando cansada de lutar pelo "óbvio". É óbvio, lógico, claro e evidente que eu posso fazer o que eu quiser e é um absurdo existir a limitação pelo fato de eu ser mulher, porque é exatamente isso a resposta do título do meu texto. Por que ele pode ficar com várias, contar pra todo mundo, todo mundo se divertir com isso e eu não posso? Por que ele pode beber, fumar, falar palavrão e putaria na mesa do bar e eu não posso? Por que ele pode gozar e eu não posso? Por que ele pode ser pai solteiro e eu não posso? Sabe por que ele pode e eu não posso? Acreditem, é  porque eu sou mulher! Espero que um dia isso seja uma grande piada pra todos, porque pra mim, sinceramente, já é.

Eu faço o que eu tenho vontade, eu falo o que eu quero, eu não tenho medo ou receio de ser eu. Se fazer o que tem vontade, aí quero registrar um exemplo bem ofensivo, se dar pra quem quiser, na hora que quiser é ser puta, então eu sou uma puta do caralho. Homens fazem isso desde que eles existem e eu vou ficar chupando dedo? Esperando a hora do casamento ou de um namoro sério? Não, prefiro chupar outra coisa. E sabem o que eu acho mais foda? As moças machistas que se dizem feministas e fazem caras, bocas e fofocas das moças livres. E acreditem, liberdade incomoda e ofende. Melhorem, queridas, isso é recalque.

Eu tô escrevendo assim de forma descontraída e escrota, mas isso é muito sério e agora eu quero falar sério. Todo esse verdadeiro machismo que descrevo aqui faz parte da nossa cultura, tá enraizado na cabeça das pessoas, mas é claro, as pessoas não nascem machistas, elas se tornam. E quem determina o modo das pessoas pensarem é a sociedade que elas estão inseridas. Então vai na conta a igreja, a escola, a família, enfim, as relações sociais. Se o problema fosse só a "falação" do povo a respeito das mulheres, eu não tava nem aí (nunca me preocupei com isso), o problema é que o machismo é um problema real que precisa ser enfrentado.

Machismo é um problema porque ele mata e intimida. Eu me sinto intimidada quando tô com roupa curta e um homem me olha com aqueles olhos nojentos como se tivesse entrando em mim. A culpa de tantas mulheres serem assassinadas por companheiros e ex-companheiros todos os dias é do machismo, porque os homens acham que são donos das mulheres, de seus comportamentos, de suas vidas, vejam que absurdo. O machismo é um problema porque quando uma mulher faz um aborto ilegal, quem paga é ela. Poderia citar milhões de exemplos aqui, mas o exemplo da violência contra mulher é o que mais nos agride. 

E pra combater tudo isso é preciso uma reforma política democrática que dê mais espaço para as mulheres, democratização dos meios de comunicação para que a mídia seja uma poderosa ferramenta de combate ao machismo e a hipocrisia e um monte de coisa precisa mudar, só assim a concepção das pessoas vai mudar também, mas eu mesma além de lutar pra que isso aconteça, eu (repetindo sem medo de ser chata) faço o que eu tenho vontade, eu falo o que eu quero, eu não tenho medo ou receio de ser eu e os machistas (homens e mulheres) vão ter que engolir a minha l i b e r d a d e.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

a vida finda

Vivo hoje o 7° dia da partida do meu pai dessa vida, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo (até minha filha chegar). Foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu corpo, dói tanto, morrer dói nos outros. Não importa as circunstâncias, o tempo, a forma, ninguém quer perder quem ama. E ainda que ele vivesse dizendo "eu já posso morrer" se referindo a nossa condição material: ele aposentado, deixaria a pensão pra minha mãe, eu enfermeira concursada, meu irmão engenheiro, uma neta que ele sempre me pediu, ele não podia morrer. Eu não queria perdê-lo por nada nesse mundo.  Na segunda passada, 16 de agosto de 2021 perto das 19h recebo a ligação da minha mãe aos prantos, "beta, acho que teu pai tá morrendo" e eu morri um pouquinho ali também, nunca uma viagem pra Itamaracá foi tão longa, fiz promessas pra Deus e pra Nossa Senhora da Conceição. Mas não tinha mais promessa que desse jeito, meu pai tinha morrido. Partiu de  forma relativamente breve, com alguma angústia

trabalhos e trabalhos

Vi meu pai e ainda vejo minha mãe fazendo trabalho braçal pra pagar as contas. Muitos trabalhos, meu pai serviços de dedetização, sendo dono de bar, vigilante, minha mãe bordando, revendendo avon, fazendo lanches, ofício que cumpre até os dias atuais. Me pego pensando nisso dentro da sala que trabalho com o ar-condicionado em 16 graus, onde passo as manhãs e as tardes realizando consultas de enfermagem na maior parte do tempo sentada fazendo avaliações, orientações, escutas. Refleti sobre esses trabalhos também uma vez quando entrei no elevador do plantão e comentei com a moça dos serviços gerais que eu tava sentindo frio, ela rebateu que "tava era com muito calor". Penso nisso o tempo todo, como um dia desses que vi um homem de manhã carregando sozinho no ônibus duas caixas de morango pra vender ou quando o marido de uma gestante que atendo não consegue se livrar de uma lesão que deve ser causada por fungos que com certeza veio do trabalho dele na Ceasa. Trabalho é trabalho

A mãe solo

A maternidade é um vivência muito individual e particular, cada mulher de acordo com seu contexto financeiro, emocional, social poderá viver esse processo de uma forma. A maternidade é tida socialmente como uma questão (um problema) exclusiva da mulher, costumo falar em encontros feministas que os problemas privados das mulheres não podem ser privados, devem ser públicos e "coletivizados" por que as questões de uma mulher na verdade são as questões das mulheres e assim são porque foram condicionadas historicamente e estruturadas pelo machismo. Considero a maternidade em si solitária, só você é mãe daquela criança, e isso traz uma carga gigante de responsabilidade para a vida das mulheres de todas as ordens, a maioria são condicionadas socialmente, mas nem todas, porque estou falando de um laço de amor e afeto eterno na vida de uma pessoa, e quando planejada ou desejada é realmente de uma indizível emoção. A maternidade é uma experiência maravilhosamente incrível, mas também p