Por esses dias vai fazer um ano que me divido entre duas casas, minha casa em Itamaracá e a casa de Vovó em Olinda, que de Vovó só tem as lembranças, mês passado fez um ano que ela faleceu e antes delas nos deixar a maior preocupação dos seus dias era a condição de deixar a sobrinha dela morando sozinha, a qual dividiam a casa há quase a vida toda e nutriam uma amor de tia e sobrinha peculiar, envolvia também gratidão, companheirismo, várias vidas!
Eu sofria com as lamentações da minha Vó e prometi a mim mesma que não deixaria minha tia só enquanto eu pudesse. E é o que tento fazer, eu nunca expus esse meu sentimento pros meus pais e às vezes dói o fato deles acharem que eu quero me manter distante, se bem que na correria que a minha vida está, acabo me tornando ausente nas duas casas, angústia que aos poucos vou aprendendo a conviver.
Porém, nunca abandono alguns rituais de despedida que faço quando saio de Itamaracá, antes era todos os dias quando ia pra Recife e agora, quase todas as segundas-feiras: dou tchau pros meus pais, quando chego na esquina da rua olho pra trás, às vezes encontro painho, mainha, ou meu cachorro me observando, sigo uma rua reta admirada com a paisagem no horizonte que em dias de sol o azul do céu se mistura com o brilho do mar, não demora muito e tenho que virar a direita pra chegar no terminal de ônibus, faço o sinal da cruz quando passo pela igreja do Pilar, namoro o verde da minha Ilha até chegar na ponte, onde enfim com aquela vista linda me despeço definitivamente, antes era até a noite, hoje é até a sexta.
Percebi que também pratico rituais de despedida quando saio da casa de Vovó: um cheiro na cabeça da minha tia e tenho a extrema necessidade de dizer o dia do meu retorno, como quem diz "já volto". Esses rituais representam muitas coisas pra mim, no 1º período participei de um grupo de estudo sobre os sentimentos em relação a morte e li algo do tipo que os "rituais" servem pra nos preparar pra uma próxima etapa. Rituais como os velórios, a colação de graus e a formatura, acho que vocês já entenderam, quis dizer que os meus rituais de despedida me preparam pra sair de Itamaracá e Olinda e me confortam mesmo não tendo a plena certeza da volta.
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