Certo comandante costuma dizer
que na ditadura militar era muito mais fácil fazer movimento estudantil do que
nos tempos de hoje. Fácil do ponto de vista subjetivo, pois diante de tanta
repressão, sem liberdade para se expressar e vendo os direitos da população
sendo tolhidos, segundo o comandante, “lutar era, assim, um imperativo de
consciência”. Hoje a conjuntura política e social que o país vive, faz com que
os estudantes tenham outras prioridades do que escolher fazer movimento
estudantil.
Dentro da Universidade, pública
principalmente, existem vários caminhos que o estudante pode seguir para
enriquecer sua carreira acadêmica e profissional sem ter necessariamente que se
preocupar com questões políticas, tendo uma visão mais geral e objetiva: que
não serve para preencher currículo. Logo, nos dias de hoje, fazer a escolha
consciente e consequente de ser militante do movimento estudantil é difícil
mesmo. E não só difícil por que não é algo que te traz ganhos concretos para
formação acadêmica, difícil também por que existe muito preconceito em torno da
vida militante, posso citar que, por exemplo, muitas vezes a gente precisa
perder algumas aulas e tem professores e próprios colegas que acham um absurdo
deixar de assistir aula para estar em outras salas de aula dando avisos e
realizando debates, ou participando de algum fórum de discussão institucional.
Tenho pensado nisso ao acompanhar
um problema que os estudantes do campus de Arcoverde da UPE estão passando,
eles estão em greve, já fizeram protesto, reuniões e estão tentando resolver o
problema deles que é sério. Eles não têm condições de ter aulas teóricas e
práticas, portanto, retomando a frase do comandante “lutar é assim um
imperativo de consciência”, eles só têm dois caminhos a seguir: ou lutam para
que os problemas sejam solucionados, ou devem abrir mão de seu curso e do sonho
de serem odontólogos. Muitos preferem/precisam lutar!
Mas talvez, se eles tivessem
condições mínimas de estudo, eles não se interessariam por fazer greve,
protesto e reuniões entre eles para conquistar mais e mais melhorias. Ou seja,
comparando os estudantes de Odontologia de Arcoverde com, por exemplo, estudantes
de Odontologia do campus Camaragibe (sem querer desmerecer os que fazem
movimento estudantil no mesmo), é muito mais fácil fazer movimento estudantil
hoje onde, ou faz luta, ou abandona uma futura profissão.
Por isso que cada vez mais é tão
difícil agregar pessoas nas entidades estudantis, é difícil convencê-las de
sair um pouco mais cedo da sua aula pra poder passar em outras salas de outros
cursos, não ter atenção dos estudantes, se desgastar e não receber nada por
isso, é difícil encontrar alguém que priorize as atividades da militância em
detrimento das suas atividades acadêmicas. Um amigo já me disse também que é
preciso ter paciência e habilidade com essa realidade, por que de fato,
ingressar no ensino superior é um projeto de vida e fazer movimento estudantil
é algo que te desvia do projeto de vida de alguma forma e não é todo mundo que
topa, mas enfim, conquistar mentes e corações é o grande desafio dos militantes
que escolhem ser militantes em meio a tantas outras opções que o mundo
universitário oferece. Ser militante se torna então uma opção cotidiana.
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