- beta, soubesse que dona maurina morreu?
- não, quando?
- ontem, o enterro é agora de tarde
Pensei em ir, dona Maurina tava muito velhinha, não era mais vista e quando não somos mais vistas, não somos lembradas, sim, esqueci dela, tanto que a notícia de sua morte nem me surpreendeu (eu meio que pensei, poxa ela ainda tava viva né?), nem doeu na verdade, morte de gente velha dói menos. Dona Maurina era uma vizinha, acho que tinha bem mais que 80 anos, guardo poucas lembranças, lembro dela de cabelo solto gritando com o neto, lembro da voz firme dela, lembro dela subindo a ladeira com um balde na cabeça, lembro dos olhos vivos dela, lembro de ter feito questão de ir na porta da casa dela a algum tempo onde minha tia se encontrava na porta pra conversar pra cumprimentá-la, deu pena, tava tão debilitada.
Então, fiquei nessa merda de internet e nem vi a hora passar, na hora que tava compartilhando um vídeo de Lia de Itamaracá, já que hoje é aniversário dela, fui colocar umas cirandas pra ouvir quando meu irmão disse que ela tava aqui na frente de casa pro enterro que já tava saindo, não dava mais tempo, fiquei aqui de cima da minha casa observando o cortejo, não tinha muita gente, mas tinham as pessoas mais antigas que conheço daqui das redondezas. Lembrei daquilo que o povo fala que quanto mais gente no enterro é sinal de que era bem quisto enquanto vida, mas nesse caso não era isso, é que já não tinha mais tanta gente que a conhecesse mesmo. A velhice é cruel. Descanse em paz, dona Maura.
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