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MANIFESTO PELO DIREITO AO DELÍRIO

A lucidez dos meus dias já não está tão interessante, são compromissos em cima de compromissos, agenda lotada, não me alimento nem durmo direito, só existe hora certa de resolver problemas que nem são meus. Tô cansada dessa vida cheia que às vezes me faz sentir tão vazia, tô cansada de tanta formalidade e disciplina. Quero o direito de delirar quando quiser! Quero o delírio dos loucos, dos amantes embriagados, andar por aí sem ter hora pra voltar, ser dona de nada, ser esquecida pela agenda sem peso na consciência. Quero delirar livremente.





POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar &agraves mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.

- Não quero saber do lirismo que não é libertação.
Manuel Bandeira

Comentários

  1. nao entendo como tu com essa cabeça de camarão consegue escrever tão bem kkkk... #Arrasou "tambemquerodireitoaodelirio"

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